Descrição de chapéu
O que a Folha pensa inflação

Ondas de juros

BC encerra ciclo de alta, que prossegue no mundo rico e traz ameaças recessivas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sede do Banco Central, em Brasília Marcello Casal Jr / Agência Brasil - Marcello Casal Jr. - 30.set.19/Agência Brasil

O comportamento da inflação nos países ricos, ainda desfavorável, reforça o movimento de aperto global da política monetária. No caso do americano Federal Reserve, a intensidade da alta dos juros supera os padrões das últimas décadas e reforça o risco recessivo, com efeitos sobre o restante do mundo.

O Fed se defronta com o desafio de estancar uma escalada de preços que chega a inauditos 8,3% nos 12 meses encerrados em agosto.

Embora haja expectativa de normalização dos problemas ocasionados pela pandemia em vários setores, como o de bens industriais, e já se observe queda das cotações de matérias-primas, a ameaça vem do aquecimento da economia e do mercado de trabalho.

A taxa de desemprego, de 3,7%, está próxima das mínimas históricas e há grande poder de barganha dos trabalhadores, o que pressiona os salários além da produtividade da economia. A remuneração do trabalho cresceu 6,5% em 12 meses, o que sugere pressão duradoura nos preços de ao menos 4%.

Daí a pressa do Fed, que elevou a taxa básica em mais 0,75 ponto percentual, para o intervalo de 3% a 3,25% ao ano. A expectativa é que haja movimentos adicionais, para no mínimo 4,5% nos próximos meses.

Se confirmado o prognóstico, o custo do dinheiro subiria ao maior patamar desde a década de 1990.
Parece menor a chance de domar a inflação sem uma recessão que eleve o desemprego no próximo ano —e esse é o temor que derruba os mercados globais e valoriza o dólar americano, sempre um prenúncio de dificuldades.

O quadro também é grave na zona do euro, que também passa por um período inflacionário agravado pelo choque nos custos de energia. Uma contração da atividade no continente parece inevitável.

No Brasil, de forma incomum, o quadro se afigura melhor. Como a inflação aqui começou antes, já em 2020 durante o pior período da crise sanitária, o Banco Central está mais adiantado que seus pares. Nesta semana se anunciou o encerramento do ciclo de alta da Selic, que subiu de 2% anuais em março do ano passado para 13,75% agora.

A ameaça da inflação permanece. Não se espera convergência para as metas antes de 2024, embora seja provável uma queda continuada.

O risco altista maior está relacionado ao encarecimento dos serviços, que tende a se prolongar, reforçado pela rápida recuperação da atividade. A incerteza sobre o grau de responsabilidade na gestão do Orçamento no próximo governo é outro fator crítico.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.