Descrição de chapéu
Denise Mota

A 'moça' não 'ajuda', ela trabalha

IBGE divulgou que 76% das trabalhadoras domésticas não têm carteira assinada

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A trabalhadora doméstica é uma trabalhadora. A obviedade dessa constatação dá a medida do escândalo de que 76% delas não possuam ainda carteira assinada, segundo dados divulgados este ano pelo IBGE e relativos a 2021. As trabalhadoras sem carteira ganharam 40% menos do que as com carteira. E, ó, "surpresa", as negras receberam 20% menos do que as não-negras, ainda segundo esse levantamento.

Raça, gênero e classe se conjugam nesse como em outros temas fundamentais do Brasil, que avançam a ferro e fogo graças a figuras centrais como Laudelina de Campos Mello (1904-1991), ativista negra, feminista e sindical que criou a primeira associação de domésticas do país, em Santos, em 1936.

Na próxima quarta-feira (12), Mello completaria 118 anos e vem ganhando homenagens em que artistas, intelectuais e ativistas não só revisitam como revitalizam e contextualizam seu legado frente a uma problemática renitente no país.

três mulheres negras com uniforme de empregada doméstica diante de casa gigantesca
Ilustração de Linoca Souza para a coluna de Djamila Ribeiro de 26 de março de 2021 - Linoca Souza

Uma dessas atividades é a exibição gratuita nesse dia de "Digo às companheiras que aqui estão" (2022), documentário sobre a vida de Lenira Maria de Carvalho (1933-2021) —outra referência na luta pelos direitos dessas trabalhadoras e que foi porta-voz da categoria na Constituinte. O média-metragem tem projeção gratuita no Instituto Moreira Salles de São Paulo e Rio de Janeiro. "Viemos hoje cobrar, como todos os trabalhadores estão cobrando, porque nós, domésticas, também votamos", disse Carvalho em discurso de 5 de maio de 1987.

"Ao mesmo tempo em que estamos vivendo um momento de retrocesso, só tivemos pequenos avanços graças a mulheres como elas", me diz a historiadora, escritora e rapper Preta Rara, que em 2006 criou o projeto #EuEmpregadaDoméstica, para compartilhar experiências nessa atividade. "O legado que deixam é de luta, resistência e existência", ela comenta, sobre "mulheres que escutam que são ‘como da família’, mas que têm negados acessos básicos".

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