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Com quem andas

É necessário colocar sob escrutínio relação de Lula e de Bolsonaro com ditaduras

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Em montagem, os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) - Bruno Santos e Marlene Bergamo/Folhapress

Em 4 de março de 1975, o lendário chanceler Azeredo da Silveira definiu, em um discurso na Escola Superior de Guerra, os fundamentos de política externa que norteiam a ação do Itamaraty desde então.

Para o diplomata, ela seria "pragmática porque se opõe ao apriorismo e ao idealismo verbal", e "funda-se na apuração realista dos fatos e avaliação ponderada das consequências", visando "à eficiência material e não à coerência formal".

O mundo evoluiu e, se o arranjo dualista da Guerra Fria foi substituído pela globalização e um certo vale-tudo entre nações, também houve a emergência de agendas antes relegadas ao segundo plano, como a defesa de direitos humanos.

O proverbial "diga-me com quem andas" passou a ter um peso maior, ainda que a realpolitik seja a norma. Em qualquer contexto, cumpre avaliar as relações exteriores dos dois atuais candidatos ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o incumbente, Jair Bolsonaro (PL).

O petista tem longo histórico de proximidade ideológica com ditadores e autocratas à esquerda, herança formativa de seu partido.

A incapacidade de criticar o regime de Cuba, seus laços com o chavismo e com ditadores de outrora —como o líbio Muammar Gaddafi ou o angolano José Eduardo dos Santos— são notáveis. Isso para não citar relações com Teodoro Obiang (Guiné Equatorial), o mais longevo autocrata em atividade.

No mundo em que uma empresa pode ficar sem acesso a fundos internacionais se não cumprir os ditames do ESG (ambiente, sustentabilidade e governança, na sigla inglesa), países devem se precaver.

Já Bolsonaro começa sua lista de admiração ditatorial em casa, com o saudosismo dedicado ao regime fardado de 1964. No cargo, para cada crítica à Venezuela, veio um elogio ao Chile de Augusto Pinochet.

Chama o húngaro Viktor Orbán, que fez seu país pária na União Europeia, de irmão. Estabelece laços com as franjas extremistas da direita global, que orbitam o ex-presidente americano Donald Trump.

Buscou, inclusive, submeter o Itamaraty a um alinhamento inaudito com Washington e fustigou a China comunista tão cortejada por Lula no poder, só para depois se acomodar à realidade comercial.

Por fim, coleciona afinidades com autocratas como Umaro Sissoco Embaló (Guiné-Bissau) e Nayib Bukele (El Salvador).

Tanto Lula quanto Bolsonaro concordam na neutralidade crítica em relação à guerra da autocracia russa na Ucrânia, de resto consonantes com a tradição brasileira.

Mas a crescente divisão entre o Ocidente e o bloco liderado por Pequim, com Moscou de parceira, elevará o grau de escrutínio e a pressão sobre líderes acerca das companhias que escolhem.

editoriais@grupofolha.com.br

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