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Paulo Vinicius Coelho (PVC)

Jornalista não mente (ou é outro tipo de gente)

TSE não proíbe informação correta, mas erros propositais

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Paulo Vinicius Coelho (PVC)

Jornalista e autor de “Escola Brasileira de Futebol” (ed. Objetiva), é colunista da Folha

Existe uma diferença fundamental entre fake news e erro de imprensa. Jornalista profissional erra, não mente. Nas páginas desta Folha, sempre se está sujeito ao art. 1, § 1, da Lei da Liberdade de Imprensa: "Só é proibida a publicação e circulação de jornais e outros periódicos quando clandestinos, isto é, sem editores, diretores ou redatores conhecidos, ou quando atentarem contra a moral e os bons costumes".

À letra fria, a subjetividade do texto permitiu interpretações diversas e voltou a liberar a leitura livre no episódio do Tribunal Superior Eleitoral.

Parece fazer sentido dizer que o TSE não deve interferir se não for provocado. Mesmo assim, serve a nós, jornalistas, pensar sobre que tipo de atuação temos tido nesta sociedade que desacredita o Legislativo, duvida do Executivo, passou a acusar o Judiciário e tem a imprensa jogando contra si própria, muitas vezes.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes - Pedro Ladeira - 18.ago.22/Folhapress

Ninguém quer e jamais admitirá censura.

O problema é que há diferenças óbvias entre erro de imprensa e fake news.

Aqui, conseguimos criar as fake news da imprensa.

Erro de imprensa é quando um jornalista se equivoca. Médico ministra remédio errado e corre risco de matar doente. Advogado erra. Engenheiro, arquiteto, cozinheiro, todas as profissões têm profissionais que cometem equívocos, corrigem ou se desculpam, assumem o erro, eventualmente sofrem consequências.

Fake news é soltar em redes sociais mentiras deslavadas. Como já sabemos, têm aos montes.

Fake news da imprensa não existia —ou não deveria— antes desta eleição que elevou à enésima potência a categoria de torcedores organizados, no lugar de eleitores. As brigas de torcidas incluem jornalistas. Alguns dos quais podem se julgar censurados e ler receitas de bolo. Alguns dos quais nem jornalistas são.

O pecado de nossas empresas jornalísticas é não ter o cuidado de oferecer conhecimentos sobre ética, a quem se arvora o direito de não ser "jornalista" para ser "comentarista".

Qualquer pessoa que trabalhe em jornal, rádio, TV ou internet tem o dever de entender que não pode atacar inimigos nem defender amigos.

Jornalista não tem amigos, tem fontes. No início da carreira, a fonte está longe, distante. Então, bebe-se dois cafés com um político ou técnico de futebol e o personagem se julga seu parceiro.

Repórteres, colunistas e comentaristas só têm como amigos os leitores, ouvintes, telespectadores. Ou seja, a informação certa, rigorosamente apurada.

Nos anos 1970, pareciam geniais as primeiras páginas do Jornal da Tarde, em que o nariz de Paulo Maluf crescia todos os dias. Hoje, me parece panfleto. É perfeito fazer uma reportagem por dia, mostrando suas mentiras. Não o tratar como Pinóquio.

Que me desculpem os colegas que hoje leem receitas de bolo, copiando os que desafiavam a ditadura militar depois do AI-5. A comparação é mentirosa por premissa.

Não se deve chamar Jair Bolsonaro (PL) de miliciano. Pode-se dizer que era vizinho de Ronnie Lessa, cuja filha namorou um dos filhos do presidente. Sobre isso, Bolsonaro disse: "Não me lembro desse cara".

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é ex-presidiário desde 1980, quando ficou preso por 31 dias, com base na Lei de Segurança Nacional. Era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Organizava e defendia trabalhadores.

O TSE não proíbe esta informação, porque está certa.

A proibição é aos erros propositais.

Por premissa, eles não podem ser cometidos por jornalistas. É por outra espécie de gente. Ou seria como um médico matar um doente de propósito.

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