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Factoide de véspera

Sem avançar no Datafolha, Bolsonaro usa governo para tumulto com denúncia vazia

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Jair Bolsonaro (PL), durante entrevista no Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress

Num atropelo à regra republicana que separa atos de governo e ativismo eleitoral, o ministro Fábio Faria, das Comunicações, convidou a imprensa na segunda-feira (24) para um pronunciamento em frente ao Palácio da Alvorada em que exporia um "fato grave".

No estilo nada sofisticado que caracteriza a comunicação bolsonarista, Faria afirmou que emissoras de rádio, principalmente no Nordeste, teriam deixado de veicular inserções publicitárias da campanha de Jair Bolsonaro (PL).

A supressão estaria conectada à larga vantagem obtida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre os nordestinos.

Logo ficou claro que a denúncia de fraude e o relatório encaminhado pela coligação ao Tribunal Superior Eleitoral amparavam-se em vento. Não se apresentou nenhuma prova ou evidência, nada que pudesse levar o ministro Alexandre de Moraes, presidente da corte, a outra decisão que não a de rejeitar o pedido de investigação.

Coincidência ou não, a pantomima veio na sequência do desgaste provocado na campanha pelo desvario do ex-deputado Roberto Jefferson, com seus tiros contra policiais federais, enquanto Bolsonaro não dá sinal de avanço nas pesquisas. Nesta quinta (27), marcou 44% das intenções de voto totais no Datafolha, ante 49% de Lula.

É plausível que rádios possam falhar ou descumprir a programação obrigatória, mas está claro que o ministro promoveu a divulgação de um factoide costurado às pressas com o intuito de mudar a pauta, insuflar apoiadores e lançar, mais uma vez, suspeitas sobre o processo eleitoral.

A acusação prestou-se a alimentar o discurso de uma candidatura que se diz vítima do establishment, da Justiça Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, acusados de favorecer o adversário. Ressalte-se que cabe a partidos e campanhas o monitoramento das veiculações e não é tarefa do TSE distribuí-las.

É incerto se a alegação servirá de pretexto para reações contundentes, em especial na hipótese de uma derrota do presidente.

Bolsonaro, diga-se, evitou assumir um tom de incentivo aberto ao tumulto em seu pronunciamento sobre o tema, na quarta (26). Manteve o controle ao reiterar as acusações infundadas e disse que respeitará o resultado das urnas.

Numa disputa marcada por discussões as mais extravagantes e inúteis para esclarecer o eleitor sobre os reais planos dos candidatos, o episódio não chega a surpreender. É de esperar que um mínimo de troca de ideias e apresentação de propostas venha a ocorrer no debate organizado pela Rede Globo na noite desta sexta-feira (28).

editoriais@grupofolha.com.br

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