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O que a Folha pensa Rússia

Petróleo em guerra

Opep reduz produção; Ocidente teme recessão e vê a medida como apoio a Putin

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Refinaria da maior companhia petrolífera do mundo, a Saudi Aramco, na Arábia Saudita. - Ahmed Jadallah - 21.mai.18/Reuters

O cartel de países produtores de petróleo —Opep+, que inclui a Rússia— anunciou redução das cotas de produção em 2 milhões de barris por dia. A providência logo elevou as cotações do barril do tipo Brent em mais de 5%, para US$ 94.

Não é certo que o efeito seja duradouro, já que os países na prática vinham produzindo bem menos do que a cota anterior, de modo que a medida agora tem impacto menor do que o volume anunciado.

De toda forma, importa a sinalização. O corte foi justificado como um incentivo para investimentos e produção a longo prazo.

Não sensíveis a tal argumento, países do Ocidente, em particular os EUA, veem na decisão um alinhamento do cartel com a Rússia. Preços mais altos beneficiam os cofres de Vladimir Putin, que assim pode manter sua máquina de guerra em funcionamento na Ucrânia.

Além disso, as economias americana e europeia estão fragilizadas pelo choque inflacionário e o aumento acelerado dos juros nos últimos meses. Custos de energia maiores só exacerbam a possibilidade de recessão num contexto internacional já difícil.

É plausível, entretanto, que a decisão do cartel não seja propriamente um aceno a Putin, e sim uma resposta à ameaça ocidental de fixar um teto para os preços das importações do petróleo russo.

O mecanismo ainda não está definido, mas é provável que eventuais limites de preços obriguem a Rússia a vender com desconto em outros mercados, afetando a receita dos demais produtores. Um cartel de compradores seria uma novidade perigosa para a Opep+, e o anúncio do corte de produção pode ter o objetivo de alertar o Ocidente.

A Arábia Saudita, maior produtor mundial e na prática líder da organização, não gostaria de permitir tal precedente, que um dia pode se voltar contra ela —por razões geopolíticas, humanitárias, ou porque o Congresso dos EUA decidiu que o petróleo está caro demais.

A decisão também enfraquece ainda mais a aliança estratégica com os americanos, que já não são os principais clientes —perderam o posto para a China. As consequências de longo prazo dessa mudança ainda são desconhecidas.

Seja como for, preços mais altos exacerbam a inflação e diminuem o poder de compra dos consumidores. No Brasil, o aumento das cotações dificulta novas reduções dos preços de combustíveis, um tema de forte apelo eleitoral para o governo Jair Bolsonaro (PL).

editoriais@grupofolha.com.br

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