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O que a Folha pensa

A lista de Tite

Convocação para Copa reflete trabalho criterioso, que enfrentará o imponderável

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O técnico Tite, durante anúncio da convocação da seleção brasileira para a Copa - Carl de Souza/AFP

Com uma convocação quase sem surpresas, o técnico Tite anunciou a lista de jogadores que levará para a Copa do Mundo no Qatar e encerrou o único mistério extracampo que ainda circunda o maior torneio de futebol do planeta.

Num passado já distante, o campeonato servia de palco para a apresentação de outras novidades que quase ninguém conseguia antecipar: um novo método para a preparação física, uma maneira revolucionária de conduzir o aquecimento, uma solução tática inovadora.

Nada disso constitui enigma hoje em dia. A internet e o intercâmbio intenso entre os países promovem a divulgação imediata dos avanços futebolísticos, facultam a todas as seleções a assimilação das melhores práticas e tornam os estilos de jogo um fator mais que conhecido.

O futebol, a despeito de tudo isso, jamais deixou de estar à mercê do imponderável —e talvez aí resida seu traço mais marcante. O somatório de finalizações, o acúmulo da posse de bola e a presença constante na área adversária podem resultar inúteis se, num lance solitário, o time dominado anotar o único gol do confronto.

É por essa característica que o futebol não se dá a simplificações; há muito mais entre uma linha de fundo e a outra do que pode revelar uma escolha tática ou uma lista de convocação. Como sintetizou Nelson Rodrigues: "A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana".

E é também por isso que, quando a Copa começa, eventuais protestos tendem a se dissolver. Foi assim nos anos 1960 e 1970, com a ditadura militar; foi assim em 2014, com os estádios superfaturados; será assim agora, mesmo que existam divergências políticas.

Se o aspecto imponderável permaneceu constante nessas décadas, outros mudaram radicalmente. Evoluíram o condicionamento físico, o conhecimento tático e a preparação técnica.

O trabalho do treinador também se transformou, e poucos simbolizam tão bem esse progresso quanto Tite. Comandando a seleção desde 2016, nunca se acomodou no cargo e manteve a atuação à altura da profissionalização do esporte.

Basta ver como faz a convocação. Tite exibe critérios numerosos, fechando portas para críticas vazias. Demonstra respeito inquestionável pela função, mesmo ciente de que jamais será unanimidade.

Seus diversos recordes nas eliminatórias atestam o sucesso de sua postura —bem como o acerto da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) ao mantê-lo mesmo depois da eliminação em 2018.

Não por acaso, o Brasil chegará ao Qatar como um dos grandes favoritos ao título. Que seja capaz de driblar o imponderável e voltar de lá como hexacampeão.

editoriais@grupofolha.com.br

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