O teste de Biden

Americano arrisca tornar-se o proverbial pato manco em pleito vital para governo

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Presidente dos EUA, Joe Biden, em pronunciamento sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão - Brendan Smialowski/AFP

Termo originário do mercado acionário britânico do século 18, "pato manco" passou a designar políticos com mandato, mas sem poder, nos Estados Unidos cem anos depois.

Na terça-feira (8), o presidente americano, Joe Biden, terá sua gestão colocada à prova em eleições para o Congresso e em 36 dos 50 estados do país, arriscando-se a assumir o jocoso apelido com apenas dois anos de governo.

As chamadas "midterms", eleições de meio de mandato, renovam 35 das 100 cadeiras do Senado e todas as 435 vagas na Câmara dos Representantes.

Biden foi eleito em 2020 tendo maioria de seu Partido Democrata em ambas as Casas, com folga mais estreita entre senadores. Agora, as chances de um duplo comando da oposição são altas.

Segundo o site de análise estatística FiveThirtyEight, na sexta-feira (4), o Partido Republicano tinha 85% de chances de obter maioria na Câmara e 55%, no Senado. Isso tende a amarrar as mãos de Biden pelo restante de seu governo e talvez inviabilize uma reeleição.

Apesar das imperfeições, a democracia americana tem como virtude basilar um sistema de freios e contrapesos que visa impedir o domínio de um Poder sobre outro.

Com a virulência que abate a política local desde a ascensão do trumpismo, em 2016, é fácil antever como se comportaria um Congresso republicano no próximo biênio.

O Legislativo pode bloquear o Executivo, ainda mais ante um Biden enfraquecido e enfrentando o maior surto inflacionário em décadas —preços de energia acumularam alta de 19,8% em 12 meses devido à Guerra da Ucrânia.

Talvez surjam comissões de inquérito contra iniciativas de Biden, como a retirada desastrosa do Afeganistão —da mesma forma com que democratas escrutinaram a intentona com ares golpistas de Trump em 2021.

O pleito tem implicações globais, a começar pelo empenho na ajuda a Kiev contra a invasão russa. Até aqui, os EUA aprovaram o envio de US$ 18,3 bilhões (R$ 92,5 bilhões) em ajuda militar aos ucranianos.

Se republicanos endossaram o aporte, nada garante que a proximidade de Trump com Vladimir Putin não possa mudar o cenário.

No caso do Brasil, Trump apoiou seu pupilo Jair Bolsonaro (PL). Assim, o resultado das "midterms" pode afetar também o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que recebeu promessas de cooperação, até aqui inauditas, de Biden.

editoriais@grupofolha.com.br

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