Os líderes mundiais chegam ao final da COP27 (Conferência do Clima da ONU, realizada no Egito) nos entregando um planeta na rota de chegarmos perto de 3oC de aquecimento até 2100, o que significa um futuro trágico. Os países não aumentaram as suas ambições e não chegaram a um acordo sobre o fim dos combustíveis fósseis, o maior responsável pelo aquecimento. A grande conquista foi a criação de um fundo de perdas e danos, mas ainda estamos longe de o dinheiro chegar para os países que já sofrem com a mudança do clima.
O Brasil chegou a Sharm el-Sheikh como o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, com aumento de 12% das emissões em 2021 (em relação a 2020) e com o maior desmatamento da Amazônia no mês de outubro desde 2015. Apresentou-se ao mundo dividido, com três pavilhões no espaço de exposições da COP: o oficial, do governo federal, o de uma aliança dos governadores da Amazônia e o plural e pujante espaço da sociedade civil.
Sem protagonismo na agenda oficial, a participação do governo brasileiro foi uma melancólica despedida de um cético da mudança climática que nos transformou em pária ambiental. O desfecho foi uma "menção desonrosa" de "Fóssil do Ano". O prêmio máximo foi concedido aos Estados Unidos pelas dificuldades criadas para a criação do fundo de perdas e danos. Tal posição foi um banho de água fria para a justiça climática.
Mesmo com a insipida participação oficial, o Brasil foi um dos destaques da COP devido à notável passagem do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com participações em momentos decisivos das negociações climáticas, como na sua fala na COP15 em Copenhague, em 2009, e com o legado de ter reduzido drasticamente as emissões do Brasil durante seu governo, Lula mostrou novamente sua liderança e prestígio internacional.
Em vez de chantagear o mundo para a entrega de resultados, como foi a tônica do governo que se despede, reconheceu a urgência das mudanças do clima e o papel central do Brasil para contribuir para as suas soluções. Assumiu compromissos ambiciosos, mas necessários e compatíveis com um país que pretende retomar o seu papel de potência ambiental global. O fim do desmatamento de todos os biomas até 2030 está entre eles. Colocou a questão climática no centro do seu governo, tornando as expectativas muito altas e com grandes obstáculos a serem superados. Estes exigirão um novo pacto da sociedade brasileira, em que nenhum setor pode ficar de fora.
Foi firme em cobrar dos países ricos e desenvolvidos a responsabilidade pelo financiamento internacional. Voltou para casa com o aceno de países dispostos a colaborar com os desafios nacionais. A Noruega e a Alemanha já haviam sinalizado o interesse em voltar a aportar recursos para o Fundo Amazônia, paralisado pelo atual governo.
O Brasil voltou para a vitrine do mundo, mas os desafios que temos à frente para garantirmos um futuro climático seguro e justo para as próximas gerações permanecem gigantescos e urgentes. Há muito pouco tempo para a virada. Além de discursos, as ações e os resultados precisam ser imediatos.
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