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Edson Luiz Sampel

O que acontece depois da morte?

Deus é decerto misericordioso, mas também é justo

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Edson Luiz Sampel

Teólogo e professor do Instituto Superior de Direito Canônico de Londrina

Depois do óbito, não se retorna ao nada do qual Deus criou cada ser humano. A Igreja Católica, perita em humanidades ("Populorum Progressio", n. 13), proclama uma doutrina escatológica séria, mas prenhe de esperança.

O atual Dicastério da Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício) possui um documento teológico chamado "Carta sobre algumas questões referentes à escatologia". Ao lume da referida carta e do catecismo da Igreja Católica, vejamos o que pode acontecer depois da morte, pois esta quarta-feira (2) é o dia em que particularmente lembramos dos entes queridos já finados.



A Igreja Católica explica que após a ocisão subsiste o "elemento espiritual", com consciência e vontade. Desta feita, o defunto continua a pensar, malgrado não se sirva da imaginação, dependente do cérebro (Garrigou-Lagrange). Ao aludido elemento espiritual dá-se o nome de "alma".

Erro crasso, infelizmente cometido por alguns padres nos velórios, é pregar que o falecido já ressuscitou, em que pese ao cadáver no féretro, à vista de todos que o carpem. A ressurreição (corpo glorioso) ocorrerá no fim do mundo, na parusia. Até o presente, apenas Jesus Cristo e Santa Maria, a mãe dele, ressuscitaram.

Para os que expiram há duas possibilidades póstumas: o céu ou o inferno. A Igreja Católica chama de "novíssimos" tais realidades escatológicas: morte, juízo, céu e inferno. Consoante alguns santos, agraciados com revelações particulares, como, por exemplo, Santa Tereza d’Ávila, a maioria das pessoas que morrem em estado de graça (sem pecado mortal) vão para o purgatório. Com efeito, o purgatório, embasado tanto na Sagrada Tradição quanto na Sagrada Escritura (2 Mc, 12-42; Mt 12, 32) não é propriamente um lugar, mas um estado, no qual as almas são purificadas a fim de poderem ver Deus face a face no céu.



Existe, outrossim, o inferno. Explana o catecismo da Igreja Católica: "O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente depois da morte aos infernos, onde sofrem as penas do inferno, o ‘fogo eterno’ (...)" (n. 1035).

A Igreja Católica não se pronuncia acerca dos que sofrem as penas eternas no inferno; contudo, pontifica, infalivelmente (canonização), a propósito das almas que gozam da felicidade no paraíso, como, por exemplo, Irmã Dulce, recentemente elevada às honras dos altares. Sou da opinião de que, infelizmente, há um sem-número de almas no inferno (milhões, desde Adão e Eva?). Pensemos nos pecados tão hediondos que se perpetram dia a dia, sem arrependimento dos fautores: latrocínios, assaltos, sequestros, homicídios, corrupções financeiras, racismos etc. Demais, não consigo imaginar no céu juntos e felizes, sentados à mesma mesa, nazistas empedernidos e suas vítimas. Deus é decerto misericordioso, mas também é justo.

A doutrina católica mostra que devemos levar a vida com imane seriedade, a fim de lucrarmos o céu quando morrermos.

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