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O que a Folha pensa Banco Central

Pobres endividados

Para lidar com inadimplência, é fundamental preservar retomada do emprego

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Fila para empréstimo consignado do Auxílio Brasil em frente a uma agência da Caixa Econômica Federal - Rivaldo Gomes/Folhapress

Em circunstâncias normais, a expansão do crédito para pessoas físicas e jurídicas seria uma boa notícia inequívoca para a economia brasileira. Quando os juros estão em um momento de pico, porém, o cenário se torna preocupante.

Segundo pesquisa recém-publicada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), o percentual de famílias com contas em atraso no país atingiu 30,3% em outubro, numa alta de 4,7 pontos percentuais em 12 meses. Como a Folha noticiou, trata-se da maior taxa de inadimplência medida desde o início da série histórica, em 2010.

Hoje, 79,2% das famílias se declaram endividadas, ante 74,6% em outubro de 2021. Desde o início do ano passado, os juros do Banco Central saltaram de 1,9% para 13,75% —as taxas de mercado, obviamente, acompanharam a alta em escala muito maior.

Previsivelmente, a incapacidade de pagamento é maior nas faixas mais baixas de renda. No corte da CNC, estão inadimplentes 33,6% dos consumidores com renda até dez salários mínimos, enquanto para os demais a cifra cai a 13,9%.

Estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, esmiuçou ainda mais a concentração do fenômeno nos estratos mais carentes. Como reportou o jornal Valor Econômico, os devedores com renda até dois salários mínimos respondem por 37% do crédito em atraso, de acordo com registros de julho.

Pela avaliação do Ibre, a escalada tem origem na pandemia, que derrubou a atividade econômica brasileira em 2020. De início, o endividamento das famílias teve o incentivo da queda dos juros do BC; depois, no entanto, veio o aumento da inflação e o aperto monetário.

Não há solução simples para o problema —e há que evitar medidas demagógicas ou voluntaristas. Nesse sentido, o empréstimo consignado ligado ao Auxílio Brasil, parte do pacote eleitoreiro de Jair Bolsonaro (PL), precisa ser revisto.

Nas vagas ideias econômicas que apresentou durante a campanha, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluiu um programa destinado a facilitar a renegociação das dívidas das famílias mais pobres.

Não se conhecem maiores detalhes da proposta, a começar pelos fundos que poderiam ser mobilizados para tanto.

De mais palpável, é imperativo zelar para que se mantenha o máximo da retomada da atividade e do emprego observada neste ano. A prioridade deve ser a permanência, com aperfeiçoamentos, do Auxílio Brasil de R$ 600 mensais, sem abrir caminho para uma gastança que comprometa a confiança, os investimentos e as contratações.

editoriais@grupofolha.com

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