Descrição de chapéu
O que a Folha pensa transição de governo

Transição inchada

Equipe aumenta de modo inédito, mas sem apontar direção clara para governo Lula

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, acompanhado de membros da equipe de transição, anuncia novos nomes para os grupos de trabalho - Pedro Ladeira/Folhapress

Faltando apenas seis semanas para a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a equipe encarregada da transição para o novo governo não para de crescer.

Com as novas nomeações anunciadas nesta sexta (18) pelo coordenador dos trabalhos, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), chegou a 320 o número de participantes, distribuídos em pelo menos 31 grupos temáticos.

Nunca houve uma equipe tão numerosa desde que a passagem entre governos começou a ser organizada no Brasil por normas e procedimentos regulados em lei, iniciativa tomada por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) antes de entregar a faixa a Lula em 2002.

Seria ótimo se todos estivessem trabalhando com afinco para levantar informações sobre as várias áreas do governo, elaborar diagnósticos e preparar medidas que permitam ao eleito pisar firme quando assumir a função. Infelizmente, ainda não é o que se vê.

Posições foram ocupadas por veteranos de gestões petistas e novos aliados, numa tentativa de explicitar a disposição de Lula de buscar colaboradores de diversas correntes de pensamento para governar.

Os sinais até agora são de que boa parte está ali mais para fazer figuração do que para contribuir de fato com discussões produtivas. A maioria dos indicados atua em caráter voluntário, e somente Alckmin e uma dúzia de assessores ocupam cargos assalariados.

Muitos parecem ter sido nomeados apenas com o objetivo de aplacar ansiedades, até que o presidente eleito defina a composição do futuro ministério e o lugar que ocuparão em seu governo.

O método pode até servir para ganhar tempo e atenuar as pressões que se avolumam sobre Lula, mas sugere também que falta ao eleito o sentido de urgência que os desafios à sua frente requerem.

A principal iniciativa do grupo até agora foi a apresentação da proposta que amplia, de forma temerária, o espaço para gastos públicos no próximo ano, levada por Alckmin à cúpula do Congresso.

Espantosamente, a medida nem sequer foi submetida ao crivo dos economistas que participam da equipe de transição, que inclui dois dos formuladores do Plano Real, André Lara Resende e Persio Arida.

Dada a ausência de planos consistentes para o reequilíbrio das contas públicas, coube a Alckmin assumir sozinho a defesa da proposta, acenar com reformas e renovar promessas de gestão responsável.

No mesmo dia, o ex-ministro Guido Mantega anunciou a decisão de deixar a equipe, uma semana após sua chegada. Impedido pelo Tribunal de Contas da União de exercer cargos públicos por causa de irregularidades na gestão orçamentária no passado, ele resolveu sair para não causar embaraços ao governo eleito. Menos mal.

editoriais@grupofolha.com

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.