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Adeus, Cuba

Recorde migratório expõe falência dos embargos, caos econômico e política cruel

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Cubano em bote improvisado tenta fugir da ilha pela praia de Las Piedras, no município de Caimito - Adalberto Roque/AFP

Há décadas, cubanos tentam fugir da ditadura e da devastação econômica, arriscando suas vidas em longas e perigosas jornadas com a esperança de alcançar uma vida melhor nos Estados Unidos. Mas, mesmo num país onde ondas migratórias são constantes, os números atuais causam assombro.

Estima-se que quase 250 mil cubanos, cerca de 2% dos 11 milhões que habitam a ilha, tenham migrado aos EUA no último ano fiscal, encerrado em setembro —o maior êxodo registrado desde a revolução comandada por Fidel Castro, no final dos anos 1950.

Composto principalmente por jovens, o fluxo é tamanho que especialistas projetam um futuro demográfico preocupante para o país, cuja população é a mais envelhecida do continente americano.
Há dois fatores a impulsionar a atual avalanche migratória. Diferentemente do passado, a maior parte dos que deixam a ilha hoje o faz por ar, e não mais pelo mar.

A mudança deve-se, sobretudo, a uma decisão do governo da Nicarágua, que em novembro do ano passado retirou a exigência de visto de entrada para cubanos —uma ação que, segundo analistas, faz parte da estratégia do governo do ditador Daniel Ortega para pressionar os EUA a retirarem as sanções impostas sobre sua família.

Uma vez na capital nicaraguense, os migrantes pagam "coiotes", como são conhecidos os traficantes de pessoas, para ajudá-los a fazer a viagem de 2.700 quilômetros por terra até a fronteira americana.

Além disso, as condições de vida em Cuba, historicamente precárias, deterioraram-se ainda mais.

A política de "pressão máxima" do governo Donald Trump resultou no endurecimento das sanções contra um país que já sofre há décadas com um anacrônico embargo econômico —que só tem servido para prejudicar a população e oferecer justificativas persecutórias para manter a ditadura local.

Veio então a pandemia, que colapsou uma das principais fontes de recursos de Cuba, o setor de turismo. Com isso, o desabastecimento se agravou, gerando uma escassez brutal de artigos de primeira necessidade. Completa esse cenário desolador a repressão do regime à onda de insatisfação popular que emergiu no ano passado.

Entre a crueldade da ditadura e a obsoleta política americana de embargos, resta uma população profundamente empobrecida e tiranizada, que não vê outra alternativa senão abandonar o próprio país.

editoriais@grupofolha.com

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