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Apetite petista

PT se apossa de postos decisórios e suscita questões de gestão e governabilidade

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Os petistas Fernando Haddad, futuro ministro da Economia, e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito - Adriano Machado/Reuters

Com a maior parte dos futuros ministros já escolhidos, o PT assegurou para si uma espécie de controle acionário do novo governo —os principais postos decisórios e o comando da grande vitrine da área social, o Bolsa Família ampliado.

Na quinta-feira (22), definiram-se dois titulares de pastas palacianas. O deputado Alexandre Padilha (PT-SP) ocupará a Secretaria de Relações Institucionais e deverá se envolver na articulação política; outro deputado da legenda, Márcio Macêdo (SE), ficará com a Secretaria-Geral da Presidência.

Já se sabia que Rui Costa, encerrado seu mandato de governador da Bahia, ocupará a chefia da Casa Civil, responsável por monitorar os trabalhos de todos os ministérios.

Na crucial área econômica, parece claro que Fernando Haddad (Fazenda) —de notória ligação com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)— estará à frente das principais políticas sem maior contraponto às preferências petistas.

Por fim, Wellington Dias, ex-governador e hoje senador eleito pelo Piauí, comandará o Desenvolvimento Social e verbas de mais de R$ 170 bilhões para transferência de renda às famílias mais pobres. O cargo era desejado por Simone Tebet, presidenciável do MDB que apoiou Lula no segundo turno.

Como se imaginava, haverá grande aumento do número de ministérios, dos 23 de Jair Bolsonaro (PL) para 37. Estão anunciados 21 nomes, dos quais 7 petistas. Parte das 16 pastas restantes abrigará partidos ao centro ideológico.

O povoamento da Esplanada brasiliense e o apetite do PT não surpreendem —em administrações passadas, a sigla chegou a contar com 17 de 39 ministros. O que há a considerar são as consequências para a gestão e a governabilidade, dado que petistas terão menos de 15% das cadeiras na Câmara.

A distribuição de postos a políticos, inevitável para a formação de coalizões, não é necessariamente nociva ao gerenciamento da máquina, desde que os titulares sejam qualificados ou ao menos saibam se amparar em servidores competentes dos escalões inferiores.

Mais problemático é quando se rebaixa uma aliança à mera cooptação fisiológica, o que resultou em não poucos escândalos e crises em governos do PT e de outras siglas.

Ao suceder o desgoverno obscurantista de Bolsonaro, Lula dispõe de enorme vantagem na largada. A simples perspectiva de que sejam restabelecidos padrões de civilidade e racionalidade em áreas como saúde, educação, ambiente, cultura e direitos humanos já representa avanço digno de celebração.

É no apego a dogmas, a começar pelos econômicos, e na dificuldade petista em compartilhar o poder que residem os maiores temores quanto ao novo governo.

editoriais@grupofolha.com

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