Pesquisa Datafolha realizada nesta semana revela que 75% dos eleitores brasileiros declaram-se contrários aos protestos de grupos radicais bolsonaristas que irromperam em diversos pontos do país depois de confirmada a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição presidencial.
O índice de condenação aos atos antidemocráticos, que promoveram bloqueios de rodovias e acampamentos à frente de quartéis para rejeitar o resultado das urnas e clamar por uma intervenção militar, ultrapassa em muito os 51% que optaram pelo petista.
Entre os que escolheram Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno, segundo o levantamento, menos da metade (44%) dizem estar de acordo com as manifestações.
Além da rejeição a métodos e propostas políticas violentas, reflete-se nesse inequívoco repúdio o bem-vindo entendimento de que o processo eleitoral transcorreu dentro das regras democráticas, que o triunfo da oposição foi legítimo e deve ser respeitado por todos.
De fato, os inaceitáveis e persistentes esforços liderados pelo próprio presidente da República para desacreditar o processo eleitoral, difamar autoridades do Judiciário e alardear, sem provas, fraudes nas urnas eletrônicas, não prosperaram —salvo para uma minoria de frustrados com a derrota.
Mais controversos são os dados que a pesquisa traz acerca do tratamento que deve ser dado aos manifestantes. Para 56%, eles merecem ser punidos, enquanto 40% consideram que não, já que teriam o direito de expressar suas convicções, mesmo contrárias à democracia.
Nesse aspecto, as divisões entre eleitores de Bolsonaro e Lula são mais acentuadas. Enquanto 67% dos primeiros se opõem às punições, entre os que votaram no petista 81% são favoráveis.
Diante da informação de que o Judiciário tem determinado o bloqueio de perfis nas redes sociais dedicados a contestar o regime democrático com falsas alegações e a defender um golpe militar, a reação majoritária é de desaprovação: 63% não concordam com a suspensão das contas, contra 32% que se mostram a favor.
Os apoiadores de Lula dividem-se meio a meio (49% contra e 48% a favor) a respeito dessas decisões judiciais, enquanto 79% dos bolsonaristas as condenam.
Não obstante as previsíveis diferenças de opinião num país que foi às urnas dividido por aguda polarização política, é plausível ver nos números da pesquisa uma tendência predominante à aceitação dos valores democráticos.
Isso se dá tanto no que tange ao endosso do sistema eleitoral quanto na relativa cautela diante de medidas que possam parecer restritivas à liberdade de expressão.
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