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Cristina condenada

Julgamento da vice-presidente argentina alimenta a crise política e econômica

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Cristina Kirchner, vice-presidennte da Argentina - Natacha Pisarenko/REUTERS

Em mais um lance de uma crise que se alastra na política e na economia, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi condenada a seis anos de prisão por corrupção, pena que não será cumprida de imediato. A acusação se refere aos períodos em que ela e seu marido, Néstor Kirchner, morto em 2010, governaram o país.

Segundo promotores, o casal desviou verbas para uma empreiteira na província de Santa Cruz. A defesa alega que a então chefe de Estado não poderia ser responsabilizada pelas licitações e que o Congresso aprovou o investimento.

Cristina Kirchner se comparou ao presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao se dizer vítima de "lawfare" —uma perseguição do sistema de Justiça.
Por aqui, tanto Lula como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) prestaram solidariedade à argentina, em mais um movimento politicamente temerário de identificação ideológica.

Restam cinco processos contra a vice-presidente, e outros três foram arquivados. Ela pode recorrer da condenação e tem direito a foro especial até o final de 2023. Seu discurso de defesa, à moda populista, inclui ataques à imprensa.

O governo do país vizinho segue em turbulência —a vice e o presidente, Alberto Fernández, colecionam não poucos atritos. A primeira contribuiu com críticas ácidas para a queda de um ministro da Economia, Martín Guzmán, que tentava alcançar o equilíbrio das contas públicas a partir de negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Epítome atual do peronismo, o arcaico populismo desenvolvimentista argentino, Cristina chegou a dizer que "o déficit fiscal não é responsável pela inflação". Estima-se que a variação acumulada dos preços neste ano chegue aos 100%.

Políticas econômicas baseadas em protecionismo comercial excessivo, emissão de moeda, aumento descontrolado de gastos públicos e intervencionismo estatal produzem os resultados conhecidos: perda contínua do poder de compra da população e retração dos investimentos necessários para a expansão da atividade.

O mesmo se consegue com a imprevisibilidade política, e no caso argentino o que se vê é uma coisa alimentando a outra, num círculo vicioso sem solução à vista.

A vice-presidente declara que não será candidata à sucessão de Fernández nas eleições presidenciais do próximo ano. A aparente demonstração de sensatez, mesmo se levada a cabo, não torna menos nebuloso o futuro da segunda maior economia do continente.

editoriais@grupofolha.com

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