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Não é nossa praia

Litoral evidencia atraso vexatório no saneamento e importância do marco legal

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Vista aérea da praia de São Francisco, perto do centro de São Sebastião (SP), uma das praias com menor qualidade - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Com seus cerca de 8.000 km de linha costeira, Brasil sempre foi um país de frente para o mar. Quando se trata de viagens de lazer, em especial no verão, o brasileiro sempre pensará primeiro no litoral.

Tal lugar de destaque no imaginário se pode aquilatar pela expressão cotidiana "não é a minha praia", quando alguém pretende indicar falta de gosto ou familiaridade com algo. Ingleses dizem que não é sua xícara de chá; alemães, que não é sua cerveja.

Por aqui, tratamos mal o objeto de predileção. Banhos de mar se tornam mais e mais arriscados, com a piora mensurável da balneabilidade. Segundo levantamento realizado pela Folha, nos últimos seis anos nunca foi tão baixo o número de praias limpas.

De novembro de 2021 a outubro de 2022, foram monitorados 1.334 pontos, e só 29% registraram condições próprias para banho em todas as medições. Em campanhas anteriores, o índice ficava em 36%.

Pior, aumentou de 10% para 13% o número de praias ruins, aquelas que permaneceram impróprias entre um quarto e metade das semanas monitoradas.

Não escapam da poluição nem destinos turísticos com a importância de Balneário Camboriú (SC) ou Salvador (BA). A capital baiana não teve nenhuma praia classificada como adequada ao longo do ano inteiro, algo inédito.

Coliformes fecais compõem o mais célebre indicador de má qualidade da água. Eles têm origem mais que conhecida: esgotos despejados em rios e córregos (ou, mais grave, coletados e neles deitados sem tratamento), que cedo ou tarde alcançam o oceano.

Já se disse que o grau de civilização de um país se mede pelas suas penitenciárias, porém caberia dar igual precedência ao critério do saneamento. Não cabe falar em desenvolvimento quando persistem esgotos a céu aberto, espalhando doenças entre os mais pobres.

Para uma nação de renda média, mostra-se vergonhosa a situação do país. A coleta de dejetos domiciliares avança a passos de tartaruga: eram 55% dos brasileiros em 2020 e 55,8% em 2021. Nesse ritmo inaceitável, quase meio século seria necessário para chegar perto de uma universalização.

O marco legal do saneamento básico estabeleceu como meta a universalização já em 2033, apenas uma década à frente. Sem investimentos privados, o Estado jamais logrará, sozinho e em prazo tão estreito, saldar essa a dívida social.

O governo do PT tem quatro anos para provar qual é a sua praia, liderando o país na limpeza sempre adiada do majestoso litoral.

editoriais@grupofolha.com.br

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