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Ensino integral em SP é meritório, mas deve considerar desigualdades sociais

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Alunos do ensino médio em escola pública de São Paulo (SP) - Zanone Fraissat/Folhapress

Consenso entre especialistas, a educação integral traz benefícios duradouros na vida do aluno: pode dobrar a proficiência ao longo do ensino médio, reforçar taxas de aprovação e conclusão —inclusive adiante, na universidade— e, já no mercado de trabalho, impactar diretamente nas remunerações.

A jornada ampliada na rede pública é determinação do Plano Nacional de Educação desde 2013, mas ainda caminha a passos lentos no Brasil. O formato é regra entre os países que apresentam os melhores desempenhos educacionais.

No estado de São Paulo, a prática avançou essencialmente nos últimos quatro anos —eram 417 escolas em 2019 e, no ano que vem, serão 2.311, ou 45% de toda a rede.

Levantamento do Laboratório de Ensino e Material Didático (Lemadi), da USP, aponta que 246 municípios paulistas, 38% do total, ofertam o ensino de 7 ou 9 horas em todas as escolas estaduais.

São em sua maioria, contudo, pequenas cidades do interior. A expansão tem sido mais lenta em municípios populosos, como na capital e na região metropolitana.

Em que pesem os esforços do governo paulista, a implantação evidencia açodamento e inobservância de critérios e particularidades.

Um exemplo é a diretoria de ensino de Fernandópolis, que abrange 16 municípios e primeira do estado a ter 100% das escolas no modelo.

Reportagem da Folha mostrou que muitos jovens do ensino médio precisam trabalhar para ajudar nas contas da casa. Sem a opção de meio período e para não abandonar os estudos, fazem jornadas extenuantes de 18 horas diárias, sendo obrigados a viajar até mais de 40 km para frequentar aulas noturnas em cidades vizinhas.

As gestões tucanas de João Doria e Rodrigo Garcia apostaram no Programa de Ensino Integral (PEI) como forma de aplacar maus resultados da educação paulista.

Dados de 2021 do Saresp, prova que avalia rendimento escolar no estado, revelaram que, dos alunos que concluíram o ensino médio, 96,6% saíram da escola sem ter aprendido a resolver uma simples equação de 1º grau ou interpretar dados estatísticos —uma defasagem média de seis anos de ensino.

Não há dúvida de que mais horas na escola podem proporcionar ganhos significativos. Tal processo, entretanto, não pode ser imposto sem a opção de turnos parciais ou, se necessário, algum suporte financeiro, sob risco de aprofundar desigualdades e a evasão escolar.

editoriais@grupofolha.com

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