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Estreia internacional de Lula 3 tem fórmulas reprisadas e aliança com Argentina

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa em encontro com empresários durante a Celac, em Buenos Aires - Agustin Marcarian/Reuters

Que o Brasil tornou-se um pária internacional sob o governo Jair Bolsonaro (PL) —pretensão anunciada com orgulho por seu delirante chanceler Ernesto Araújo— não é segredo para ninguém.

Assim, a reestreia de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no palco internacional como presidente veio carregada de expectativa, dada a energia dedicada por ele à área externa nos dois mandatos anteriores.

Simbolicamente, ela ocorreu numa reunião da Celac, clube de países latino-americanos e caribenhos abandonado por Bolsonaro. Se o Brasil quer ser o líder regional digno de suas dimensões econômica e demográfica, obviamente precisa estar em contato com os vizinhos.

A oportunidade, contudo, foi gasta com retórica. Lula levou consigo um arsenal de fórmulas vencidas e um discurso retrógrado, remanescentes do contexto das gestões da década retrasada.

Ali, impulsionado pela fome por commodities de uma China em ascensão, o petista lançou diversos mecanismos para promover o que chamava de diplomacia Sul-Sul, em oposição ao tradicional eixo com a Europa e os Estados Unidos.

Algumas iniciativas até faziam sentido naquele momento, como o bloco Brics, que reunia também China, Rússia, Índia e, depois, África do Sul. Outras eram natimortas, como a Unasul, uma tentativa de ampliar o cambaleante Mercosul.

Agora, é tudo história. Cada nação do Brics tem uma realidade geopolítica divergente da dos colegas, e a recente pressão uruguaia para fazer um acordo de livre comércio com os chineses relembra os limites do clube meridional.

Mais preocupante do que o saudosismo é o risco da volta de práticas desastrosas, encarnadas na renovada aliança com a Argentina do malogrado Alberto Fernández.

Se é claro que o Brasil deveria retomar laços rompidos pelo governo anterior, o pacote de boas-vindas de Lula tem elementos que causaram fiascos no passado.

À sugestão irrealista de uma moeda comercial comum com Buenos Aires, onde quase ninguém aceita o peso nacional para transações triviais, soma-se a ideia quixotesca de que o BNDES poderá voltar a financiar projetos regionais, como o gasoduto de Vaca Muerta.

Ligando o Brasil a uma província de gás de xisto, cuja exploração é criticada por dez entre dez ambientalistas, a obra tem tudo para repetir calotes dados por amigos como a Venezuela no banco brasileiro.

Temperando tudo, a contumaz incapacidade petista de criticar as ditaduras de esquerda, como os regimes autoritários de Caracas e Havana —para Lula, eles merecem "carinho". O mundo, como explicitou o presidente de centro-direita do Uruguai em seu discurso na Celac, é bastante diferente hoje.

editoriais@grupofolha.com

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