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Desastre sob Bolsonaro não pode servir a passadismo na política externa de Lula

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Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília - Sergio Lima/Folhapress

Um momento definidor da política externa brasileira sob Jair Bolsonaro (PL) se deu em outubro de 2020, quando o então chanceler Ernesto Araújo expressou orgulho do isolamento global do país: "Que sejamos esse pária", disse.

O pior da destruição ocorreu nos dois primeiros anos do governo passado, quando o Itamaraty do inacreditável ministro foi transformado na ponta de lança daquilo que o bolsonarismo considerava sua agenda ideológica, inspirada pela paranoia antiglobalista da direita guiada por Donald Trump.

O restante do manejo da pasta, sob o opaco Carlos França, buscou apresentar uma certa normalidade na prática, mas o estrago já havia sido consumado.

Dessa forma, é ao mesmo tempo tarefa hercúlea e simples reconstruir a reputação do Brasil. É nesse paradoxo que reside o desafio para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Simbolicamente, o petista acertou ao levar Marina Silva (Rede) para o Ministério do Meio Ambiente, uma das poucas áreas em que o Brasil tem autoridade nos debates mundiais —algo desprezado de forma acintosa por Bolsonaro.

A política externa em si está novamente sob o comando do pragmático Mauro Vieira, que como chanceler entre 2015 e 2016 consolidou a reaproximação entre Brasil e Estados Unidos, relação então tisnada pelo episódio da espionagem americana de líderes mundiais, Dilma Rousseff (PT) inclusa.

Seu discurso de posse não chegou a ser animador. Vieira, cria do farol da diplomacia lulista, o ex-chanceler Celso Amorim, tirou da prateleira siglas empoeiradas por desuso merecido, como a Unasul (clube sul-americano morto há tempos).

Qual papel Lula vê nos Brics, grupo que uniu Brasil, Rússia, China e África do Sul hoje? Nos anos 2000, havia uma ideia de Sul Global emergente; hoje há Pequim engalfinhada em disputa com os EUA, Moscou atacando a Ucrânia, Nova Déli disputando a primazia no continente asiático com os chineses.

Isso para não falar na notória afinidade petista com ditaduras de esquerda. Não cabe um isolamento à Bolsonaro, mas é preciso levar a sério a ideia de que respeito aos direitos humanos devam pautar relações entre Estados nacionais.

A condenação pelo Itamaraty da provocativa visita de um ministro de extrema direita do novo governo de Israel à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém é, assim, um saudável respiro, após anos de apoio irrestrito ao Estado judeu por orientação ideológica aberrante.

Resta saber como será a reação a atos em Cuba, Venezuela ou Nicarágua. A mera retomada de um velho normal será insuficiente ante os desafios de um mundo diferente daquele em que Lula era chamado de "o cara" por Barack Obama.

editoriais@grupofolha.com

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