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O gigante encolhe

Primeiro declínio populacional chinês em 62 anos é desafio da ditadura comunista

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Pedestres transitam pelo centro comercial de Xangai (China) - Aly Song/Reuters

Segundo estimativas das Nações Unidas, ao menos desde meados do século 18 a China é a nação mais populosa do mundo —uma primazia disputada com a Índia desde a aurora da humanidade.

Tal material humano sempre foi motivo de temor reverencial. "Deixe a China dormir, pois quando acordar irá sacudir o mundo", teria dito o imperador francês Napoleão Bonaparte, refletindo políticas de potências europeias para o gigante asiático até 1949, quando o Partido Comunista tomou o poder.

Em 1961, o país teve o último declínio populacional registrado, devido à fome gerada por políticas sociais desumanas da ditadura.

Nas décadas seguintes, o problema passou a ser o pavor malthusiano dos efeitos da superpopulação. Assim, a partir de 1979, quando começou a integração da China ao sistema capitalista, foi instituída uma draconiana medida para que casais tivessem apenas um filho.

Um tsunami de abortos e assassinatos de meninas, mais indesejadas no sistema produtivo, decorreu disso. Mas o objetivo primário foi alcançado: cerca de 400 milhões de pessoas a menos no país.

Em janeiro de 2016, a política foi cancelada em favor de duas crianças por casal, dados os sinais de encolhimento demográfico. Não deu certo e, em 2021, chineses com três filhos passaram a receber incentivos fiscais do governo.

Novamente, fracasso. Nesta terça (17), foi anunciado algo que só se esperava para 2025: pela primeira vez em seis décadas, a China perdeu população, com um déficit de 850 mil pessoas. Morreram mais pessoas a partir de dezembro, com o fim da política de Covid zero do país, mas especialistas apontam a aceleração de uma tendência.

É pouco ante o exército de 1,412 bilhão de habitantes, que deverá ser suplantado pela rival Índia neste ano. Mas sugere uma curva com implicações enormes para a segunda maior economia do mundo.

Hoje, 35 milhões de pessoas no país têm 80 anos ou mais, demandando suporte previdenciário. Em 2050, serão quatro vezes mais, com o número de jovens encolhendo. A automação do mercado de trabalho pode ajudar, mas também gera problemas de outra ordem

É um beco sem saída demográfico, além de desafio para os nacionalistas. Basta ver o principal motivo aparente para a apatia dos casais em procriar: o custo. Paradoxo retórico, no comunismo chinês é mais caro criar um filho do que no capitalismo americano.

editoriais@grupofolha.com

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