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Rumos da Fiesp

Política gera troca de comando na entidade, ligada a anacronismo corporativista

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Fachada do prédio da Fiesp, na avenida Paulista - Lucas Lacaz/Folhapress

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo é uma associação de sindicatos patronais do ramo. Nesse aspecto, seria apenas uma organização privada de representação de seus interesses. Suas intervenções no debate público valeriam, como quaisquer outras, pela qualidade de suas propostas ou da aceitação de seu lobby, legítimo.

A Fiesp, porém, tem quase desde seus primórdios um caráter paraestatal —uma das entidades de representação corporativista desenvolvida na era Getúlio Vargas.

Parte de seus fundos, que financiam atividades de relevância social, ainda é dinheiro arrecadado pela Receita Federal para o chamado Sistema S, instituído por lei.

O peso econômico da indústria paulista de fato conferiu ainda mais força política à Fiesp, ao menos até os anos 1980. A relativa decadência do setor e o aumento da complexidade socioeconômica do país deslocaram a entidade do centro do poder nacional.

A federação decerto ainda frequenta o noticiário político. Não raro, porém, aparece como instituição partidarizada ou sujeita, nos últimos anos, a interesses de seu presidente de 2004 a 2021, Paulo Skaf, e abalada por querelas.

Três vezes candidato ao governo do estado, Skaf fez uso da Fiesp e de serviços como Sesi e Senai a fim de reforçar sua candidatura.

Em 2022, já sob o comando de Josué Gomes, a entidade assinou um manifesto pela democracia, em reação às ameaças golpistas de Jair Bolsonaro (PL). A iniciativa dividiu a entidade. Sindicatos patronais começaram a contestar a gestão de Gomes —para seus críticos, muito próximo do hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A tensão político-partidária provocou o movimento que o destituiu do cargo, nesta semana, medida ainda contestada.

Desde que cumpridas as leis, decisões e rusgas internas da federação sindical não dizem respeito ao público em geral. O episódio faz lembrar, entretanto, que a Fiesp —ou mais precisamente as organizações administradas do Sistema S— se vale de fundos parafiscais, o que constitui uma distorção.

Os sindicatos patronais ou quaisquer outros devem cuidar de si, como representantes de interesses privados que são, e financiar a si próprios, sem intervenções ou conexões estatais. Cumpre superar, de modo gradual, esse anacronismo corporativista.

Será necessário definir, ao longo do processo, o que fazer dos serviços sociais, culturais e educativos do Sistema S, uma reforma que muito tarda, e de certo modo mais uma forma de privatização.

editoriais@grupofolha.com

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