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Crise entre EUA e China acerca de balões espiões trava reaproximação dos rivais

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Balão chinês suspeito de espionagem é abatido pela força aérea americana - Randall Hill/Reuters

Crises entre grandes potências podem ter motivações claras, como a oposição do Ocidente à Rússia devido à agressão contra a Ucrânia, ou descer a níveis de opacidade que, em outras circunstâncias, seriam vistos como farsescos.

É o caso da corrente disputa entre as duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, devido ao suposto emprego de balões espiões por parte dos chineses.

Essa, ao menos, é a alegação dos americanos, que derrubaram um desses artefatos no dia 4 e, desde a sexta passada (10), abateram mais outros três menores.

Se no caso do primeiro balão a suspeita estava estabelecida por imagens que mostravam um objeto do tamanho de três ônibus, com equipamentos pendurados, nada se sabe sobre os demais abatidos.

O governo dos EUA apenas afirma que eles, objetos voadores não identificados que são, não pertencem a alguma raça alienígena. O fato de ter sido necessária tal declaração por parte do porta-voz da Casa Branca mostra o grau de surrealismo da atual contenda.

Pequim sustenta que o primeiro balão era de fato chinês, mas civil, e destinava-se a pesquisa meteorológica. Havia apenas saído de curso. Depois, acusou os EUA de fazer mais de dez incursões semelhantes no ano passado.

De lado a lado, a história soa imprecisa. Se chineses sofreram violações americanas de seu espaço aéreo, como não houve queixa formal, se, no ambiente de confronto estabelecido entre ambos, quase todos os temas viram contenciosos? O mesmo vale para os EUA, que alegam terem recalibrado seus radares, gerando a onda de avistamentos e derrubadas de óvnis.

O imbróglio mais parece remeter à paranoia dos anos 1950 —quando homens verdes de Marte e comunistas habitavam o mesmo escaninho na imaginação coletiva americana— do que coadunar com transparência governamental.

Talvez por um bom motivo: rivais geopolíticos se espionam desde sempre na história mundial.

O que é certo até aqui é que o caso fez com que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, cancelasse uma ida a Pequim. A reaproximação aberta pelo regime de Xi Jinping no fim do ano passado, quando o líder chinês encontrou-se com o presidente Joe Biden, está emperrada.

Isso interessa a muitos nos EUA, a começar pela oposição republicana ao mandatário democrata, de olho nas eleições do ano que vem.

editoriais@grupofolha.com

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