Entenda o que se sabe dos óvnis que EUA e Canadá derrubaram

Veja perguntas e respostas sobre balão chinês e objetos voadores não identificados abatidos na América do Norte

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Washington | The New York Times

Os governos dos Estados Unidos e do Canadá estiveram ocupados interceptando objetos voadores não identificados nos céus, derrubando um na sexta-feira (10), sobre o Alasca, outro no sábado (11), sobre o território de Yukon, e um terceiro sobre Michigan, no domingo (12).

Ambos os países ainda estão tentando identificar e recuperar os artefatos, mas esses esforços devem ser prejudicados pela distância dos locais, na costa ártica do Alasca, e a natureza acidentada do Canadá.

O suposto balão chinês espião cai no oceano após ser atingido na costa da Carolina do Sul, nos EUA
O suposto balão chinês espião cai no oceano após ser atingido na costa da Carolina do Sul, nos EUA - Randall Hill - 4.fev.23/Reuters

Os incidentes ocorreram uma semana após os EUA explodirem no céu um suposto balão espião chinês, equipado com uma antena destinada a identificar a localização de dispositivos de comunicação e capaz de interceptar ligações feitas nesses dispositivos. O balão, que cruzou o país durante vários dias, deixou o público paralisado e chamou a atenção em Washington para a intensificação da rivalidade com a China.

O que aconteceu no Alasca, em Yukon e em Michigan?

Na sexta-feira (10), militares americanos derrubaram um objeto voador não identificado sobre o Oceano Ártico, perto do Alasca. Tropas do Comando Norte dos EUA estavam trabalhando perto de Deadhorse, no Alasca, com unidades da Guarda Nacional do Alasca, o FBI e a polícia local, para recuperar o objeto e determinar sua natureza, disseram autoridades do Departamento de Defesa.

Então, no sábado (11), um F-22 americano do Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (Norad, na sigla em inglês), operado conjuntamente pelos Estados Unidos e pelo Canadá, derrubou o objeto sobre o território federal do Yukon (Canadá). O Norad enviou caças americanos, aos quais logo se juntaram jatos canadenses, para rastrear o objeto. O F-22 usou um míssil ar-ar Sidewinder para derrubar o objeto sobre o território canadense, o mesmo tipo usado para obliterar os objetos voadores anteriores.

Os Estados Unidos derrubaram outro objeto no domingo sobre o Lago Huron (entre Michigan, nos EUA, e Ontário, no Canadá) usando um caça F-16 que disparou um míssil ar-ar Sidewinder contra o objeto.

Por que esses objetos foram derrubados mais rapidamente?

O balão chinês atravessou o país antes de ser derrubado no início deste mês, permitindo que as autoridades americanas o observassem e coletassem informações. Ele estava voando a 60 mil pés (18 km) e não representava perigo para as aeronaves.

O objeto acima de Michigan voava a 20 mil pés (6 km) e era um perigo potencial para a aviação civil. Autoridades americanas e canadenses dizem que os objetos derrubados na sexta e no sábado também estavam voando mais baixo que o balão chinês, representando um perigo maior para aeronaves civis.

Funcionários do Pentágono também disseram que os destroços do balão poderiam atingir pessoas no chão. Mas os outros objetos foram derrubados sobre a água ou áreas pouco povoadas, minimizando o risco de queda de detritos. O balão chinês também criou um estado de hipervigilância. Embora seja raro os Estados Unidos derrubarem objetos voadores não identificados, as tensões com a China permaneceram altas desde que o balão foi avistado nos céus americanos, há quase duas semanas.

Como os últimos objetos diferem do balão chinês?

As autoridades americanas não têm certeza do que são os objetos mais recentes, muito menos de seu propósito ou de quem os enviou. Pequim reconheceu que o balão era da China, mas disse que era para pesquisa meteorológica. John F. Kirby, porta-voz da Casa Branca, disse que o objeto derrubado perto do Alasca era "muito menor do que o balão espião que derrubamos" e que "a maneira como foi descrito era aproximadamente do tamanho de um carro pequeno, em oposição ao do balão, de dois ou três ônibus".

Autoridades americanas e canadenses descreveram o objeto sobre o Yukon como cilíndrico e disseram que também era menor que o balão abatido sobre o Atlântico no fim de semana anterior. O objeto que caiu no domingo tinha uma estrutura octogonal com cordas penduradas, disseram autoridades americanas.

O principal comandante militar que supervisiona o espaço aéreo norte-americano descreveu o balão chinês como tendo cerca de 60 metros de altura e pesando milhares de quilos.

O que o suposto balão espião estaria coletando?

Esta continua sendo uma grande pergunta. As autoridades ainda não sabem quais informações o balão supostamente estava roubando enquanto atravessava o país.

O balão tinha uma matriz de inteligência de sinais –nome sofisticado para uma antena capaz de localizar dispositivos de comunicação e escutá-los. Mas as autoridades ainda não sabem se essa matriz foi criada para captar ligações feitas por rádios militares, telefones celulares comuns ou algo totalmente diferente.

Quantos balões espiões existiam?

Os balões são difíceis de detectar por radares. Muitos dos primeiros balões espiões chineses observados perto de exercícios ou bases militares dos EUA não foram identificados como ferramentas de vigilância, mas como fenômenos aéreos não identificados, jargão moderno do Pentágono para Óvnis.

Nos últimos 18 meses, os EUA começaram a aprender mais sobre o programa chinês de balões. Quando autoridades revisaram casos anteriores de fenômenos aéreos não identificados, determinaram que eram balões espiões. Uma revisão dos dados antigos mostrou que ao menos três balões espiões entraram no espaço aéreo dos EUA durante o governo Trump. Houve ao menos uma visita adicional no governo Biden.

Mas todos esses incidentes foram relativamente curtos –não o trânsito de um dia do balão deste mês.

Isso fazia parte de um programa de vigilância chinês mais amplo?

A China desenvolveu um programa de balões espiões como complemento à sua frota de satélites de reconhecimento, disseram autoridades americanas, para coletar informações em todo o mundo.

Como as capacidades dos balões espiões ainda não são perfeitamente compreendidas, não é certo se eles coletam informações diferentes das dos satélites chineses. Mas as autoridades disseram que, no mínimo, os balões podem se manter mais tempo sobre um local. E, enquanto satélites de reconhecimento em geral se concentram em imagens, balões parecem se dedicar mais à captação de comunicações.

Algumas autoridades dizem que o programa de balões espiões tem se concentrado na região do Pacífico, coletando informações sobre bases americanas e operações militares aliadas. E, claro, os chineses não usam apenas balões para fazer vigilância em bases militares. Alguns relatórios sigilosos sugerem que eles também estão usando tecnologias avançadas para coletar informações sobre os militares dos EUA.

Qual é o plano de recuperação dos destroços?

Mergulhadores da Marinha americana têm trabalhado para recolher os destroços do balão desde o dia 5 de fevereiro para fins de coleta de informações dos próprios Estados Unidos, disseram autoridades do Pentágono e do FBI. O esforço de recuperação deve levar dias.

O balão foi rapidamente recuperado, assim como cabos que flutuavam na superfície do oceano. Mas a maioria dos componentes eletrônicos estava na carga útil do balão, transportada por baixo. Os restos dela estão espalhados no fundo do oceano, embora nas águas relativamente rasas da costa da Carolina do Sul.

As equipes de mergulho estão entregando o material recuperado ao FBI, que o levará ao seu laboratório em Quantico, na Virgínia. Qual o estado do objeto e quanto se pode aprender com ele permanece incerto. É provável que os destroços do Alasca e do Yukon também sejam levados ao laboratório em Quantico para serem examinados por especialistas da comunidade de inteligência dos EUA.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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