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Guerra, 1 ano

Com Ucrânia invadida, economia patina e embate entre Rússia e Ocidente se acirra

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Joe Biden e Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia, durante visita do presidente americano a Kiev - Dimitar Dilkoff/AFP

A brutal invasão russa da Ucrânia, desenhada para colocar de joelhos o governo de Kiev em poucos dias ou semanas, chega na sexta-feira (24) a seu primeiro ano.

É o testemunho de erros táticos, que impediram a antecipada rápida vitória russa, e de fracassos estratégicos, como o pedido de entrada da Suécia e da Finlândia na Otan, a aliança militar ocidental cujo convite para a adesão ucraniana foi um "casus belli" alegado por Vladimir Putin para agir.

Trata-se de uma efeméride funesta, a começar pelo preço pago em sangue. Não há estatísticas confiáveis, mas estimativas ocidentais apontam em até 280 mil o número de mortos e feridos beligerantes, e talvez 40 mil civis ucranianos.

A destruição da infraestrutura do calejado país europeu somaria, se o conflito parasse hoje, US$ 350 bilhões, diz o Banco Mundial.

A economia global foi chacoalhada devido ao impacto sem precedentes das sanções lideradas pelo Ocidente para punir a Rússia e tentar secar seu financiamento.

O remédio até aqui não logrou curar a doença, já que os russos tiveram contração de 2,1% de seu PIB em 2022, não a fatal derrocada prevista, e conseguiram boias de salvação ao se apoiarem em parceiros que não aderiram às sanções, como China, Índia, Turquia e Brasil.

Já o paciente sofreu, com índices inéditos de inflação mundo afora, EUA e Europa à frente, devido ao impacto nos mercados de energia e de alimentos —nos quais a Ucrânia também é ator relevante.

Houve, claro, ajustes ainda em curso, como a descontinuidade da dependência alemã do gás russo, um legado tóxico da celebrada primeira-ministra Angela Merkel.

A guerra extrapolou, há muito, o Leste Europeu. Provam essa observação os dois principais eventos que antecederam o primeiro ano da invasão: o discurso de Putin anunciando a suspensão do último tratado de limitação a armas nucleares existente e uma visita de Joe Biden, seu adversário americano, a Kiev e Varsóvia.

O jogo, como o russo descreveu em sua fala com os tons apocalípticos usuais, é entre o Kremlin e a Casa Branca. Volodimir Zelenski, o comediante eleito presidente que tornou-se herói da resistência de Kiev, ficou em segundo plano.

Segundo o Instituto para Economia Mundial de Kiel (Alemanha), dos US$ 150 bilhões em ajuda mundial à Ucrânia até aqui, US$ 60 bilhões de natureza militar, os EUA respondem por US$ 78 bilhões —0,4% de seu PIB, o que garante o caráter global à guerra.

A completa opacidade acerca do fim do conflito, que ainda se insinua distante, apenas aumenta a certeza de que o dia 24 de fevereiro de 2022 abriu um novo capítulo na história da globalização.

editoriais@grupofolha.com

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