O Brasil bateu a funesta marca oficial de 700 mil mortes por Covid-19, mas o número real é ainda maior. Estudo da UFMG estima que a subnotificação em 2020 foi de pelo menos 18%. Métodos indiretos de contagem, como o excesso de mortalidade, elevam ainda mais as cifras.
A boa notícia é que o pior da pandemia já passou. A má é que ela ainda não acabou, com cerca de 300 óbitos por semana. Um contraste notável com os 4.000 óbitos por dia registrados nos piores momentos, mas suficiente para assegurar que o doença ainda permaneça como causa de morte relevante no país.
O principal motivo para o arrefecimento da crise sanitária foram as vacinas, que devem ser celebradas como um triunfo do engenho humano. Desenvolvidas em tempo recorde, funcionaram surpreendentemente bem e mudaram o perfil de contaminação.
No início, viam-se pacientes jovens e saudáveis com quadros pulmonares gravíssimos, invariavelmente precisando de suporte ventilatório (intubação). Agora, os óbitos estão mais concentrados em grupos específicos, como idosos com comorbidades que acabam perecendo devido a doenças preexistentes exacerbadas pela Covid-19.
É possível também que o vírus tenha evoluído para formas menos letais. A ômicron e suas subvariantes, hoje dominantes no mundo, não seriam tão mortais quanto a delta ou a cepa original —um debate aberto entre virologistas.
De todo modo, ainda há tarefas para autoridades sanitárias. A mais urgente é reforçar a vacinação em grupos vulneráveis (idosos e imunocomprometidos) ou que apresentam baixa cobertura (crianças com menos de cinco anos).
Também seria importante disseminar o uso de terapias antivirais, como o Paxlovid, para pacientes com maior risco de agravamento da Covid-19 —elas são capazes de reduzir o risco de morte, mas precisam ser iniciadas de forma relativamente precoce.
Deve-se ainda prestar assistência aos muitos pacientes que desenvolveram a chamada Covid longa, que inclui sintomas bastante debilitantes, ou que passaram a conviver com transtornos mentais, notadamente os de ansiedade.
Resolver sequelas que a epidemia deixou sobre o SUS também é necessário, como a queda no número de transplantes e o aumento da mortalidade materna. Ambos parecem estar associados ao estresse por que o sistema passou e do qual ainda não se recuperou.
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