Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Rússia

Queridos amigos

Xi e Putin cimentam aliança contra o Ocidente, que deve pressionar o Brasil

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Xi Jinping e Vladimir Putin brindam durante visita do líder chinês ao Kremlin, em Moscou (Rússia) - Pavel Byrkin/Sputnik via Reuters

Coreografada com pompa no imperial cenário do Kremlin, em Moscou, a visita de Xi Jinping a Vladimir Putin coroou uma aproximação de regimes autoritários que, apesar de ter limites claros, desafia o Ocidente e também pressiona nações como o Brasil.

O líder chinês e o presidente russo, chamando um ao outro de "querido amigo", aprofundaram o tratado de "amizade sem limites" que havia sido celebrado 20 dias antes de Putin invadir a vizinha Ucrânia, em fevereiro do ano passado.

Ainda que a aliança sino-russa não seja de natureza militar, a cooperação no setor entre os países multiplicou-se, para apreensão de Washington —o presidente Joe Biden chegou a admoestar Xi a não emular Putin e invadir Taiwan, ilha que Pequim considera sua.

São casos distintos, o taiwanês e o ucraniano, mas o contexto é o mesmo: o embate geopolítico iniciado em 2017 pelos americanos para conter a assertividade da China.

A guerra no Leste Europeu tornou-se o primeiro capítulo quente da disputa, dada a relação entre Moscou e Pequim. EUA e Europa, principal mercado dos chineses, pressionaram Xi a influenciar o Kremlin a desistir da invasão, sem nenhum sucesso.

Mesmo apresentando-se como um promotor da paz enquanto não condena Putin, indiciado por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional três dias antes da visita a Moscou, o chinês estreitou seus laços com a Rússia.

Há cálculo econômico. Putin comanda enormes reservas de petróleo e gás, agora sem mercado na Europa. E seu poderoso arsenal nuclear, comparável apenas ao americano, o torna um aliado valioso caso o impensável ocorra.

Sócio minoritário no arranjo, o russo tem em Pequim um respiro ante as sanções ocidentais: os chineses compraram 48,6% a mais em produtos da Rússia no ano passado.

Xi chegou a ensaiar uma reaproximação com Biden, ciente da impossibilidade de suportar uma ruptura de laços econômicos com um mundo globalizado —em seu favor, a recíproca é verdadeira. Mas os EUA zeraram o jogo com a bizarra crise do balão espião e a ampliação de atividades no Indo-Pacífico.

Com tudo isso, uma certa lógica de blocos se insinua, deixando em situação delicada os não alinhados, como Brasil e Índia. A proposta de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de um clube de nações neutras para discutir a paz, por exemplo, está sendo contaminada pela polarização.

Discuti-la com Xi na visita que fará à China dificilmente será dissociada no Ocidente de um alinhamento ao eixo rival. O Brasil pode e deve buscar uma posição soberana que atenda a seus interesses, mas, dada a tensão do cenário, o preço tende a ser cada vez mais alto.

editoriais@grupofolha.com

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.