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Dados iniciais de 2023 geram apreensão com desmatamento na Amazônia e no cerrado

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Área desmatada próxima a Porto Velho (RO) - Ueslei Marcelino/Reuters

Os dois primeiros meses do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foram animadores para a questão do desmatamento na Amazônia e no cerrado. Ainda é cedo para falar em retrocesso ambiental, mas a luz vermelha se acendeu.

Em fevereiro, as derrubadas alcançaram níveis recordes. Foram 321,9 km² na Amazônia (alta de 62% em relação a 2022) e 557,8 km² no cerrado (salto de 97%), totalizando 879,7 km² de perdas (equivalente a meio município de São Paulo).

Na Amazônia, a cifra preocupa por se tratar da estação mais úmida, quando o corte raso da mata é mais difícil. Na soma dos 59 dias decorridos desde a posse, o cenário melhora: registraram-se 489 km², menos que nos dois primeiros meses do ano passado (629 km²).

No caso do cerrado, a situação preocupa porque fevereiro viu dobrar a taxa de devastação. Péssima notícia para uma formação florestal que, sob a expansão da fronteira agropecuária, já perdeu 50% da cobertura original (na Amazônia foram menos de 20%).

Mas cabem ressalvas para atenuar o alarme. Os dados provêm do sistema Deter, criado para identificar áreas prioritárias para fiscalização e autuação pelo Ibama, não tanto para computar taxas oficiais de desmatamento —atribuição de outro programa do Inpe, o Prodes.

Com todos os aperfeiçoamentos feitos no Deter, os alertas precoces apresentam limitações que o Prodes corrige no acumulado anual. Ademais, a variável cobertura de nuvens e outros fatores podem influenciar a flutuação das áreas detectadas como floresta destruída.

Seria imprudente, contudo, descartar que grileiros, madeireiros e garimpeiros estejam a aproveitar-se da transição conflitiva de governo e do desmonte do Ibama efetuado no governo Jair Bolsonaro (PL). A nova administração deu prioridade para o flagelo do garimpo em terras yanomami, descurando talvez na vigilância de outras áreas.

O índice de 879,7 km² em fevereiro impressiona, mas há que cotejá-lo com o total do Prodes em 2022, de mais de 22 mil km². Embora cada hectare desflorestado seja danoso para a crise do clima, pois aumenta emissões de carbono, cabe assinalar que a primeira cifra representa menos de 4% da segunda.
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Ambiente, quando obteve recuo de 54% entre 2004 e 2008 no desmatamento da Amazônia. Há muito trabalho pela frente, no entanto.

editoriais@grupofolha.com

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