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Seguro contra partidos

Demagogia de Lula o impede de admitir que a autonomia do BC é aliada do governo

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Fachada do Banco Central, em Brasília - Leonardo Sá/Agência Senado

"Apoiar bancos centrais independentes não é de todo alheio à política progressista, dado que a inflação é uma importante fonte de desigualdade econômica". Quem o assevera é Mario Marcel, ministro da Fazenda do governo esquerdista de Gabriel Boric, no Chile.

Em seus 33 anos de autonomia, a autoridade monetária chilena já conviveu com presidentes conservadores e socialistas. Decerto os governantes discordaram pontualmente das decisões sobre juros, mas não reverteram a sua prerrogativa de arbitrar com independência as taxas de curto prazo.

Na mensagem, crítica a uma reportagem recente da revista britânica The Economist, Marcel vai além e afirma que seu governo reforçou as linhas de atuação do BC na tarefa de estabilizar os preços. Comemora a obtenção de um superávit fiscal equivalente a 1,2% do PIB em 2022, revertendo déficit de 8,8% no ano anterior.

Outro país em que esquerda e direita alternaram-se no poder sem tisnar a independência do banco central, conquistada em 1960, foi a Austrália. Grande exportadora de commodities como Brasil e Chile, e portanto sujeita a solavancos cambiais, a nação da Oceania nem por isso se desviou do compromisso de longo prazo com o BC.

O jovem estatuto de autonomia do BC brasileiro, fixado em lei em 2021, já mostrou a sua efetividade. Descasar o ciclo político dos mandatos de presidente e diretores da autoridade monetária escudou a economia de uma crise de desconfiança como a que fez disparar o dólar em 2002, na primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

Desta vez o câmbio mal se mexeu diante do favoritismo do candidato do PT, e isso mesmo após os experimentos desastrosos dos aprendizes de feiticeiro do partido, que produziram a gigantesca recessão de 2014-2016.

Há 20 anos, Lula foi socorrido por um executivo da banca internacional sem ligação com a esquerda, Henrique Meirelles, que por sua vez teve de demonstrar engajamento com a estabilização monetária elevando a Selic para 26,5% ao ano no início da gestão.

Em 2023, a institucionalidade fez o serviço sozinha, sem a necessidade de elevação dos juros básicos de 13,75% ao ano. Quem impulsionou os juros da praça foi a boca incontida do presidente, justamente ao ameaçar a autonomia do BC.

A demagogia do mandatário o impede de admitir que o Banco Central autônomo é um dos principais aliados do seu governo. A instituição protegeu o país e o chefe de Estado das ideias econômicas amalucadas e destrutivas do PT.

editoriais@grupofolha.com

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