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O que a Folha pensa Guerra do Iraque

Farsa que reverbera

Guerra entre EUA e Iraque completa 20 anos com legado de erros geopolíticos

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Palácio de Sadam Hussein em chamas após ataque dos EUA, em Bagdá (Iraque) - Ranmzi Haidar - 21.mar.03/AFP

Em janeiro de 1991, os Estados Unidos lideraram uma coalizão com mandado da ONU para expulsar as forças do ditador iraquiano Saddam Hussein do Kuwait, que havia sido invadido no ano anterior.

Após 12 anos, os mesmos EUA seguiram à risca o dito de Karl Marx em "O 18 de Brumário de Luís Bonaparte" e repetiram a história, dessa vez não como tragédia, mas como farsa que reverbera até hoje.

O precedente para a invasão ilegal do Iraque, que completou 20 anos nesta segunda (20), inexistia. Não havia armas de destruição em massa no país, e Sadam não estava aliado à Al Qaeda —que, em 2001, havia justificado a chamada Guerra ao Terror com o 11 de Setembro.

Havia um projeto geopolítico e econômico com pitada de vingança, já que o então presidente americano, George W. Bush, era filho do quase homônimo que venceu em 1991 mas não derrubou Saddam.

No campo político, os Estados Unidos estavam no zênite de poder pós-Guerra Fria, e a ameaça do terrorismo ajudou a justificar o apetite de Washington.

O problema foi reconhecido quase 20 anos depois, quando Joe Biden deixou o Afeganistão, ocupado em 2001 por abrigar a Al Qaeda. A imposição de valores democráticos a sociedades alheias a eles criou mais brutalidade —uma exceção foi o arrefecimento da opressão das afegãs durante a ocupação.

No Iraque, isso foi demonstrado com a resistência da minoria sunita associada a Saddam e a posterior guerra civil sectária com a maioria xiita do país. O saldo, segundo estudo da Universidade Brown (EUA), pode ter chegado a 315 mil mortos e um custo de US$ 1,8 trilhão.

O país livrou-se de uma ditadura cruel e ficou com uma autocracia a flertar com a anarquia. De quebra, o arquirrival dos EUA na região, o Irã, ganhou um virtual vassalo.

Se as petroleiras ocidentais aliadas às locais lucram com a produção recorde do país, quase o dobro do nível pré-guerra, essa bonança não alcança a população. Cerca de um terço dos 42 milhões de iraquianos vive na pobreza, diz a ONU.

Ademais, a guerra não acabou totalmente. Ainda há tropas no Iraque, visando conter um dos maiores males oriundos do caos instalado: o terrorista Estado Islâmico. Por fim, a ação americana expôs a impotência das Nações Unidas, que também a Rússia evidenciou ao mundo ao invadir a Ucrânia.

Afora a queda de Saddam e a atual aversão americana a repetir o erro, não há legado a celebrar.

editoriais@grupofolha.com

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