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O nó dos transplantes

Poder público deve identificar problemas para superar retrocessos da pandemia

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Cirurgiões realizam transplante de coração no Instituto do Coração, em São Paulo (SP) - Lalo de Almeida/Folhapress

Ao sobrecarregar a rede de saúde, a pandemia de Covid-19 afetou o tratamento de outras doenças e causou distorções na logística do sistema. Uma das áreas afetadas foi a de transplantes, com efeitos que ainda perduram.

Segundo o Ministério da Saúde, entre janeiro e julho de 2020 o número desses procedimentos caiu 37% se comparado ao mesmo período do ano anterior, e as mortes de pessoas que estavam na fila para receber um órgão subiram 34%.

Relatório da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) aponta que o número de doadores efetivos também foi afetado, interrompendo tendência de crescimento verificada de 2015, quando registraram-se 14,1 doadores por milhão da população (pmp), a 2019, com 18,1. Já em 2020, a taxa caiu para 15,8, e em 2021, para 15,1.

O fenômeno tem várias causas. No início da pandemia, considerava-se que o procedimento aumentaria a transmissão do vírus, mas pesquisas científicas atestam que esse risco é mínimo ou ausente.

Além disso, a demora para obter resultados dos testes causou lentidão na fila e a pressão para agilizar sepultamentos gerou aumento da recusa de familiares. A logística de transporte aéreo ficou precarizada, e doadores vivos negavam o procedimento por causa do risco de transmissão hospitalar.

Mesmo com o arrefecimento da pandemia, os números ainda não atingiram os patamares anteriores. De 7.404 doações e 15,1 pmp em 2021, passou-se a 8.021 e 16,5 pmp em 2022. Em 2019, antes da crise sanitária, eram 9.224 e 18,1 pmp.

Especialistas apontam que, em 2022, o índice de doadores aumentou mais do que o de transplantes, o que sugere dificuldades técnicas.

As contraindicações médicas são feitas pelo centro de doação quando o doador não é adequado para o receptor ou quando o centro de transplante não tem plena capacidade para realizá-lo. No ano passado, o índice de negação foi de 17% —abaixo dos 23% de 2021, mas ainda acima dos 15% de 2019.

Disparidades regionais são complicadoras. Em 2017, por exemplo, Santa Catarina tinha 40,8 de pmp, mas Tocantins sequer teve doadores. A falta de equipes preparadas para preservar corpos e órgãos e realizar procedimentos complexos impede a cobertura do território.

Para superar o retrocesso gerado pela pandemia, é preciso que o poder público investigue os nós da cadeia de transplantes e proponha soluções adequadas a cada região.

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