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Navios iranianos no Brasil expõem cenário delicado para diplomacia de Lula

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O navio de guerra iraniano Iris Dena atracado no Porto do Rio de Janeiro - Ricardo Moraes/Reuters

Na busca pelo retorno do Brasil aos palcos internacionais, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem apostado numa reedição da postura independente que caracterizou seus dois primeiros mandatos no Planalto.

Não é algo simples, dada a maior complexidade do cenário externo em um mundo que vive a perigosa guerra na Ucrânia e o crescente embate entre os polos estratégicos desta etapa do século 21, os Estados Unidos e a China.

Assim, o que em outros tempos poderia ser visto como um episódio de menor importância ganha contornos de crise diplomática, mostrando para o Itamaraty de Lula que suas pretensões não deverão ter acolhida tão imediata e natural quanto o presidente gostaria.

Foi o caso do atracamento de dois navios de guerra iranianos, a fragata leve Dena e a embarcação de apoio logístico Makran, no porto do Rio de Janeiro, entre 26 de fevereiro e 4 de março.

As belonaves fazem parte da tentativa da teocracia iraniana de expandir sua projeção militar, exibindo aos arquirrivais americanos sua capacidade de operar em qualquer ponto. Além disso, o Dena é uma estrela da frota dos aiatolás, a mais recente adição de sua classe, tendo entrado em operação em junho do ano passado.

Teerã queria que elas parassem no Rio para abastecimento em janeiro, rumo ao canal do Panamá, mas mudou a data para fevereiro. Depois, sugeriu antecipação que coincidiria com a visita de Lula ao presidente americano Joe Biden, o que foi visto como provocação e negado pelo Brasil.

Seja como for, diversas autoridades e políticos dos EUA, além de Israel, criticaram o governo Lula, lembrando que os navios também estão sob sanções de Washington.

A defesa brasileira é óbvia: o Brasil só adota medidas punitivas decididas pelo Conselho de Segurança da ONU, nunca unilaterais; não havia, pois, óbice à presença.

Isso dito, trata-se de decisão política, como a neutralidade, na prática pró-Rússia, sobre o conflito europeu. O próximo teste será a visita de Lula ao maior aliado de Moscou, o chinês Xi Jinping, que mantém relações estreitas com Teerã.

Por evidente, o Brasil é soberano para tomar seu rumo, mas anda sobre uma linha tênue em um mundo de rivalidades crescentes. A sobriedade da tradição não alinhada do Itamaraty deve ser mantida, sem recurso ao voluntarismo que já colocou Lula em situações vexatórias no passado.

editoriais@grupofolha.com

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