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Três dígitos

Inflação argentina supera os 100%, enquanto não se vislumbra saída para a crise

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Protesto em frente à Casa Rosada contra a política econômica do governo de Alberto Fernández - Luis Robayo/AFP

Para surpresa de ninguém, a inflação na Argentina chegou ao patamar de três dígitos com os 102,5% acumulados nos 12 meses encerrados em fevereiro. A marca decorre de anos seguidos de má gestão do país, dada a incapacidade de estabelecer regras sólidas para as políticas fiscal e monetária.

Depois do período de relativa prosperidade entre 2002 e 2010, em que o país foi favorecido pela escalada dos preços das matérias-primas por causa da demanda chinesa, a economia se deteriorou.

A secular escassez de divisas se agravou, tendo o governo negociado e rompido seguidos acordos de financiamento com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A Argentina tem o infeliz título de recordista mundial de calotes —depois do nono, em 2020, praticamente cessou o financiamento externo.

É certo que o quadro inflacionário foi agravado por fatores como a seca, que comprometeu a safra e encareceu alimentos, mas a causa principal é o descontrole orçamentário crônico, além da incapacidade de estabelecer regime monetário crível que estabilize o peso.

A expectativa para o crescimento da economia neste 2023 está próxima de razoáveis 2%. Não é o suficiente, contudo, para reverter o quadro de aumento da pobreza, que atinge 36,5% dos argentinos, segundo as estatísticas oficiais.

As políticas do governo peronista de Alberto Fernández prosseguem no estilo populista, com subsídios às contas de energia e controles cambiais que levam a taxa do dólar paralelo a mais que o dobro da fantasiosa cotação oficial.

Proliferam regimes de exceção, como o caricato peso Qatar, adotado para facilitar o turismo para a Copa do Mundo no ano passado, e outras regras que visam preservar exportações como as de vinhos.

A conta pesa na popularidade do governo. Para as eleições no fim do ano, as perspectivas da Casa Rosada não são animadoras. Sondagem recente dá aos potenciais candidatos da situação —o próprio Fernández, a vice e ex-presidente Cristina Kirchner ou o ministro da Economia, Sergio Massa— não mais de 23% das intenções de voto.

A coligação Juntos por el Cambio, do ex-presidente Mauricio Macri, tem 25,7%, e o direitista antissistema Javier Milei, 20,4%.

O peronismo está em crise, mas sua maleabilidade e apelo popular tornam difícil um alinhamento político em prol de medidas responsáveis para resgatar o país da permanente instabilidade.

editoriais@grupofolha.com

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