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O que a Folha pensa mudança climática

Já se estimam efeitos do clima em renda e saúde

Transição energética lenta provoca perdas na economia global, hoje e nos próximos 25 anos, conforme apontam estudos

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Canoa em leito de rio seco na provícia de Dhi Qar (Iraque) - Assad Niazi/AFP

Quando a Convenção da ONU sobre Mudança Climática foi adotada em 1992, no Rio de Janeiro, fixara-se para o final do século 21 o horizonte de riscos à população pelo aquecimento global. Passados 32 anos, pouco se fez de eficaz para combater a crise do clima, e agora as ameaças batem à porta.

Parte dos desastres que se avolumam —enchentes, epidemias, secas, fomes, incêndios, deslizamentos— ainda se pode atribuir à variabilidade natural do clima, embora a ciência venha subtraindo peso desse fator. E o que ela aponta de negativo no futuro encolheu para o intervalo de uma única geração.

Faltam só 25 anos para 2049, quando a renda mundial terá ficado 19% menor do que seria de esperar sem tal agravamento do efeito estufa. A previsão lúgubre apareceu na revista científica Nature, em artigo de especialistas do Instituto para Pesquisa sobre Impacto do Clima de Potsdam, na Alemanha.

Os autores coletaram dados sobre danos causados por anomalias de temperatura e precipitação, ao longo de 40 anos, de mais de 1.600 regiões espalhadas pelo globo. Com essa base, projetaram perdas econômicas no próximo quarto de século considerando só o aumento de calor causado por emissões passadas de carbono.

Dito de outro modo: a economia mundial perderá um quinto do valor que poderia gerar, em 25 anos, não importa quanto governos e empresas logrem reduzir gases do efeito estufa daqui em diante.

E eles não estão cumprindo com o compromisso assumido quase uma década atrás, no Acordo de Paris (2015), de tentar limitar o aquecimento global antropogênico a 1,5ºC. As emissões globais de CO2 com produção de energia tiveram novo recorde em 2023, o ano mais quente já registrado num planeta em média 1,2ºC mais aquecido.

Isso tudo apesar dos avanços em direção a energias limpas, como eletricidade de fontes eólica, fotovoltaica e hidráulica. Porém, para atingir o objetivo de Paris, o mundo precisaria triplicar o investimento anual nesses setores de US$ 1,8 trilhão (2023) para US$ 4,5 trilhões nos próximos seis anos.

A população afetada também vê a saúde prejudicada pelo clima transtornado, com calor excessivo, radiação ultravioleta e doenças transmitidas por insetos. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, 2,4 bilhões de pessoas, mais de 70% da força de trabalho, já estavam expostas em 2020.

Em 1992, no Rio, tomadores de decisão contavam que não estariam vivos quando o pior da crise do clima se manifestasse. Hoje, ao se omitirem diante do imperativo econômico e ético da energia limpa, condenam seus próprios contemporâneos e filhos a uma vida mais pobre e insalubre.

editoriais@grupofolha.com.br

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