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O que a Folha pensa petrobras

Empreitada de risco

Apesar do discurso ambientalista, governo quer elevar produção de petróleo

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Plataforma P-52 da Petrobras na Bacia de Campos (RJ) - Bruno Domingos/Reuters

No seu discurso de vitória nas eleições de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que iria "provar que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente". Passados quase seis meses, contudo, o governo emite sinais no sentido contrário.

Segundo a Agência Internacional de Energia, zerar as emissões de carbono até 2050, essencial para limitar o aquecimento em 1,5ºC, depende de que não haja novos investimentos em combustível fóssil.

Aqui, porém, o Ministério de Minas e Energia anunciou que escalará a extração de petróleo para que o país se torne o quarto maior produtor mundial —atualmente, é o oitavo. Ainda mais preocupante, o cenário da empreitada é um dos locais mais sensíveis do Brasil.

A Petrobras busca licenciamento para perfurar na bacia sedimentar da foz do rio Amazonas. Entretanto o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) alerta para a ausência da chamada avaliação ambiental de área sedimentar (AASS).

A empresa diz que apresentou estudos de impacto ambiental e que a AASS, competência dos ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente, não é obrigatória.

Em resposta, o instituto esclarece que a AASS é mais segura, já que analisa se a região como um todo —não só o bloco específico da perfuração— é apta para exploração.

Para servidores do Ibama ouvidos pela Folha, a avaliação deveria ter sido feita antes do leilão dos lotes na foz do Amazonas, em 2013.

Localizado a cerca de 160 km da costa do Oiapoque (AP), a zona abriga os maiores manguezais do país, imensos sistemas de recifes de corais e recursos pesqueiros. Para especialistas, a exploração de petróleo no local é um dos empreendimentos mais preocupantes atualmente, devido ao risco potencial de uma catástrofe ambiental.

Mesmo assim, o governo mantém a justificativa de criar emprego e renda na região. No entanto há projetos de manejo sustentável de rios e florestas que podem ser implementados para esse fim.

Ademais, tanto Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, quanto Mercedes Bustamante, do painel científico do clima da ONU, apontam para a necessidade de investimentos em novas tecnologias e em formação profissional para seguir a tendência global que transforma empresas de petróleo em empresas de energia limpa.

O desafio é conjugar produtividade com defesa da biodiversidade. O próprio presidente, no seu discurso da vitória, disse que sabe como fazer. Então, que faça.

editoriais@grupofolha.com.br

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