Descrição de chapéu
O que a Folha pensa ataque à democracia

A queda de GDias

Demissão do ministro complica a vida do governo e dá alento a bolsonaristas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

General Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional - Evaristo Sá/AFP

Caiu o general Gonçalves Dias. Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) até quarta-feira (19), ele pediu demissão após serem divulgadas imagens que lançam novas dúvidas sobre a atuação do órgão durante o ataque antidemocrático de 8 de janeiro.

Não havia meios de o general se manter no cargo, e não são poucos os que se perguntam como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não atinou com isso mais de cem dias atrás. Há muito era sabido que GDias, como é conhecido, comandava uma unidade que, na melhor das hipóteses, revelou-se incapaz de antecipar o assalto tresloucado à praça dos Três Poderes.

A novidade embutida no vídeo da CNN Brasil está no contraste entre o caos gerado por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e a serenidade com que integrantes do GSI passeiam pelo Palácio do Planalto. São militares que ora assistem inertes ao vandalismo, ora cumprimentam membros da turba ignara, ora lhes oferecem água.

O próprio GDias aparece desfilando pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República —em nenhum momento, porém, as imagens sugerem o general em momentos de camaradagem descarada com os criminosos.

Verdade que, como o governo Lula se apressou em dizer, vários integrantes do GSI haviam sido nomeados pela gestão Bolsonaro; vários, para não dizer todos, foram afastados das respectivas funções e estão sob investigação há meses.

Mas isso não ofusca a falta de comando de GDias nem diminui o estranhamento provocado por sua atitude diante das imagens gravadas pelas câmeras de segurança. Ele rejeitou pedido feito pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação e, segundo se divulga, negou-se a entregar a íntegra a Lula —mas o governo divulgou trechos editados da baderna.

Como consequência do episódio, a base governista viu-se forçada a mudar de atitude sobre a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre os atos golpistas.

O colegiado nunca se mostrou necessário, pois as investigações avançam em diversas frentes; no Supremo Tribunal Federal, já há maioria para levar ao banco dos réus nada menos que cem pessoas acusadas de participar do vandalismo antidemocrático.

Além disso, a comissão nunca interessou a Lula. O presidente temia transtornos para sua pauta no Congresso, mas precisou ceder para não fornecer munição a quem imputa ao próprio governo a maquinação dos ataques.

Por mais disparatada que seja, a tese encontra abrigo entre bolsonaristas, e não se pode desprezar o quanto lhes servirá de alento a primeira queda de ministro de Lula.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.