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O que a Folha pensa Congresso Nacional

Atritos com o campo

Complacência com métodos do MST pode fortalecer oposição a pautas meritórias

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Movimentação na Agrishow, feira internacional de tecnologia agrícola, em Riberão Preto (SP) - Divulgação/Agrishow

Dois eventos recentes marcaram o desgaste das relações entre o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a poderosa bancada defensora dos interesses do agronegócio no Congresso Nacional.

O primeiro, no início deste mês de maio, foi a Agrishow, principal feira de tecnologia agrícola da América Latina, para a qual foi convidado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) —o que levou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), a cancelar sua participação.

Bolsonaro, hoje cercado por diferentes investigações jurídico-policiais, aproveitou a rara oportunidade para discursar a um público de apoiadores entusiasmados. O governo chegou a cogitar a retirada do patrocínio do Banco do Brasil à Agrishow, mas não levou a cabo a retaliação pouco republicana.

Lula, entretanto, não deixou de acusar em discurso "alguns fascistas, alguns negacionistas" de terem desconvidado Fávaro.

Poucos dias depois houve a feira do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) —agremiação que há muito não faz jus ao nome e, embora mantenha o ritual de invasão de propriedades, hoje pode exibir produtos cultivados nas áreas da reforma agrária.

Ministros de Lula, entre eles o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), titular da pasta do Desenvolvimento, prestigiaram a festividade, o que foi encarado por ruralistas como um gesto de apoio do governo federal ao MST, cujas ligações com o PT são notórias.

É evidente que nem toda a bancada da agropecuária —que, a depender do tema, pode conseguir maiorias congressuais— é hostil ao Planalto. No entanto os setores mais retrógrados e, não por acaso, mais ligados ao bolsonarismo podem aproveitar a situação para atravancar pautas importantes.

Entre elas, a preservação ambiental e a regularização de terras indígenas, desprezadas no governo anterior, e a complexa reforma tributária, que tende a onerar segmentos do agronegócio.
Lula acerta ao manter os canais de diálogo com o setor, seja na escolha de Fávaro para o ministério, seja no convite a lideranças para compor o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, vulgo Conselhão.

Uma delas, a presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Teresa Vendramini, disse à Folha que as maiores preocupações do campo são com segurança jurídica e direito à propriedade. Daí se tem uma ideia dos danos que o MST pode provocar para a agenda governista.

O movimento será alvo de uma CPI, o que sempre pode causar tumulto legislativo. Mais do que isso, a insistência em métodos ilegais pode fortalecer a oposição a um governo que já não tem uma base de apoio das mais sólidas.

editoriais@grupofolha.com.br

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