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Bernardo Strassburg

Dia da biodiversidade, dia da vida

Sim, nossa geração pode deixar a natureza melhor do que a encontramos

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Bernardo Strassburg

Fundador e cientista-chefe da re.green

Nesta segunda-feira (22) celebra-se o dia da vida. Oficialmente o Dia Internacional da Biodiversidade, a data clama por uma reflexão do que estamos fazendo pela vida no planeta.

Três décadas após a Rio-92 e a criação da Convenção de Biodiversidade (CBD), a natureza está em processo de declínio. A conclusão vem do maior relatório científico sobre o tema: "Avaliação Global", da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), do qual fui um dos autores. Nos últimos 40 anos, a população de animais selvagens no planeta declinou em 69%. Já protagonizamos o sexto episódio de extinção em massa da vida na Terra. O anterior, causado por um meteoro há 65 milhões de anos, extinguiu os dinossauros.

Como se não bastasse a questão moral, o declínio da natureza traz preocupações de ordem bem práticas: as Contribuições da Natureza para as Pessoas (CNP), expressão que abarca as múltiplas formas pelas quais a biodiversidade possibilita nossa sobrevivência e nosso bem-estar, acompanham o declínio da natureza. Além de contribuições intangíveis, as CNP incluem serviços básicos como provisão de água, solo fértil, polinização, controle de pragas e prevenção da propagação de patógenos como o da Covid-19.

O Fórum Econômico Mundial lista a perda de biodiversidade como uma das cinco maiores ameaças à economia do planeta. O Banco Mundial estimou que as CNP têm um valor econômico gigante: manter a floresta amazônica em pé vale, ao menos, US$ 317 bilhões por ano, ou R$ 1,5 trilhão.

Mas há um fator de otimismo: o crescente entendimento —por cientistas, sociedade, governos e setor privado— acerca desse sistema de suporte à vida provido pela biosfera. Após cinco anos de estudos e negociações, essas quatro partes foram fundamentais para o acordo celebrado na COP15, em dezembro passado, em Montreal (Canadá), que criou o novo Marco Global para a Biodiversidade. Os países participantes do encontro concordaram em preservar um terço da natureza do planeta até 2030 e estabeleceram metas para a proteção de ecossistemas vitais, como florestas tropicais e pântanos, e dos direitos dos povos indígenas.

Temos ferramentas para resolver essa crise, não só tecnicamente factíveis como com viabilidade econômica, base de empreendimentos já em curso no Brasil. Um exemplo é a restauração de ecossistemas, financeiramente viável em larga escala: em trabalho realizado a pedido da CBD, publicado na revista Nature, mostramos que restaurar 30% das áreas degradadas do planeta mitigaria 71% das extinções de espécies e retiraria da atmosfera metade de todo o aumento da concentração de CO2 desde a Revolução Industrial. Em outro artigo na mesma revista, modelamos um conjunto de medidas que não só mitigaria como reverteria o declínio na natureza que iniciamos dezenas de milhares de anos atrás.

Nossa geração pode ser a primeira na história a deixar a natureza melhor do que a encontramos e fazer isso melhorando nosso próprio bem-estar. Tenho dificuldades em imaginar honra histórica maior. Por isso, nesta data, permito-me o otimismo: hoje celebramos o Dia da Vida.

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