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Clara Becker

Educando contra o pânico

Precisamos estimular crianças e adolescentes a serem detetives de fake news

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Clara Becker

Jornalista, é diretora-executiva do Redes Cordiais, organização de educação midiática que capacita comunicadores e influenciadores digitais a combater a desinformação e o discurso de ódio nas redes sociais

Não é de hoje que a desinformação causa danos à saúde física, mental e social, induzindo a comportamentos danosos. Desta vez, ela está roubando o brilho nos olhos de nossos filhos, aterrorizados e sem dormir com a possibilidade de serem vítimas de crueldade dentro da escola.

Ainda que os indícios sejam de alarme falso, as supostas ameaças estão criando pânico entre pais e levando o desespero à comunidade escolar. Compreensível: poucas coisas apavoram mais do que a ideia de que seu filho possa estar em risco.

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Estudante abraça mãe de aluno no retorno à aula na escola estadual Thomazia Montoro, em São Paulo (SP), onde uma professora foi assassinada - Rubens Cavallari - 10.abr.2023/Folhapress - Rubens Cavallari

O problema é que, tomados por emoções, nos tornamos incapazes de fazer boas avaliações. É por isso que as fake news continuam viralizando, enganando e causando estragos. Com a cabeça quente, sem refletir, compartilhamos conteúdos que só contribuem para a disseminação do medo. Pior: segundo especialistas, a amplificação de rumores virtuais pode inspirar danos reais.

Por isso, mais do que nunca, é necessário parar, respirar e recuperar os sentidos. Só assim podemos fazer uma boa avaliação do que está de fato acontecendo e tomar a melhor decisão. Eventuais medidas de segurança precisam ser baseadas em informações apuradas, não em boatos que circulam em grupos de WhatsApp. Quem já brincou de telefone sem fio sabe o que acontece ao final.

É fundamental nos mobilizarmos para quebrar correntes de desinformação e pânico, que são o motor por trás da viralização desses conteúdos. O efeito viral, inclusive, dificulta investigações policiais. Devemos estar atentos para reconhecer informações que não vêm de fonte precisa ou confiável.

Cada um tem seu papel na proteção da comunidade e de nós mesmos contra os danos da desinformação. É isso o que a educação midiática, que desenvolve habilidades críticas e reflexivas para lidar com informações, ensina a fazer. Ao compreender como a mídia funciona e pode ser usada para manipular a realidade, nos tornamos mais conscientes do que vemos e lemos, avaliando melhor as informações.

A internet está cheia de notícias falsas e opiniões dadas como fatos, sendo crianças e adolescentes especialmente vulneráveis a elas. Precisamos estimulá-los a se tornarem detetives de fake news.

O primeiro passo é avaliar a fonte da informação: se é conhecida, confiável e não está apenas espalhando boatos. Também podemos nos perguntar qual a intenção por trás do conteúdo. Quem ganha com isso? Pessoas ruins propagam fake news pelas mais distintas motivações —desde diversão com o desespero alheio até ganhos financeiros.

Desconfie especialmente de conteúdos alarmantes, feitos para mexer com sentimentos, encorajando um compartilhamento irrefletido. Só porque está todo mundo comentando um mesmo assunto não quer dizer que ele seja verdadeiro. É importante irmos contra o efeito manada.

Uma leitura crítica, adequada a cada faixa etária, é a chave para empoderar e tranquilizar crianças e adolescentes. A capacidade de discernir quais informações são de confiança ou não pode trazer de volta noites de sono a todos nós, independentemente da idade.

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