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Guinadas chilenas

Direita radical avança no país, que precisa superar polarização e populismo

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Apoiadores da direita celebram vitória nas eleições para Constituinte, em Santiago (Chile) - Javier Torres/AFP

Depois do fim de uma sangrenta ditadura militar, em 1990, e até uma onda de protestos populares em 2019, o Chile foi um exemplo de estabilidade institucional, moderação política e prosperidade econômica na América do Sul.

Há três anos e meio, porém, o país vive um turbilhão de crises e incertezas, com mudanças bruscas de humores do eleitorado e ascensão de forças políticas mais sectárias. A guinada mais recente foi a vitória da direita radical na eleição, realizada no domingo (7), para o conselho encarregado de redigir uma nova Constituição chilena.

A mudança da Carta foi a resposta do então governo conservador de Sebastián Piñera às manifestações, não raro violentas, de insatisfação social em 2019 —que tinham entre os alvos principais as deficiências apontadas nos serviços de previdência e educação.

O país rumava à esquerda, tanto na escolha da Assembleia Constituinte quanto na eleição do hoje presidente Gabriel Boric, um jovem ex-líder estudantil, ao final de 2021. Os ventos políticos, porém, mudaram rapidamente.

As dificuldades econômicas decorrentes da pandemia de Covid-19 apressaram o desgaste da popularidade de Boric, ao mesmo tempo em que refluía o ímpeto esquerdista do eleitorado chileno.

A consequência foi a ampla rejeição, em consulta popular realizada em setembro, da proposta de nova Constituição —uma peça que revirava todo o ordenamento jurídico do país, aí incluídos aborto, ambiente, eleições e gastos públicos.

Agora, a segunda tentativa de mudar a Carta caberá a um colegiado em que a direita radical terá 22 das 50 cadeiras, e a direita tradicional, 11, enquanto a esquerda governista ficará com as 17 restantes.

A despeito de todo o vaivém, o Chile está longe de um cenário de terra arrasada. Sua renda per capita, na casa de US$ 24 mil (ante US$ 15 mil no Brasil, em cálculo que leva em conta o poder de compra das moedas locais), o aproxima dos países ricos.

A conjuntura econômica, que ora impõe sacrifícios para o controle da inflação, é difícil, mas administrável. O país tem plenas condições de expandir os serviços do Estado, de fato precários, e combater a desigualdade sem abrir mão da responsabilidade orçamentária.

A polarização e o populismo, que hoje grassam no continente, são as maiores ameaças à formação de consensos políticos para retomar a rota do desenvolvimento.

editoriais@grupofolha.com.br

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