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Tarcísio Motta

O capitão do golpe

O Brasil não é anedota, e Jair não é menino; atos devem ser responsabilizados

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Tarcisio Motta

Deputado federal (PSOL-RJ)

Numa famosa anedota, a professora questiona Joãozinho sobre o dever de casa. Imaturo demais para assumir que não fez, ele mente que o cachorro comeu a lição.

Considerando que Joãozinho deve ter menos de 12 anos e que sua atitude não pôs em risco a democracia nem a Constituição, a anedota é só uma forma de narrar a velha tática da desculpa esfarrapada. Uma anedota que assume ares trágicos quando o sujeito da história passa a ser o menino Jairzinho.

Com seus 68 anos, 27 como parlamentar e 4 como presidente, Jair Bolsonaro vive de tumultuar, agredir e ameaçar. Quando é derrotado, foge. Quando lhe exigem satisfações, dá desculpa de anedota. A mais recente foi dizer que estava doidão quando fez post questionando as eleições logo após os ataques golpistas de 8 de janeiro. Mas nenhum Joãozinho acreditaria que a morfina estonteou os inexistentes princípios democráticos de Jair. Ele tem convicção no golpismo. E nós temos provas.

Em pleno 7 de Setembro, em consonância com os desvairados que pediam "intervenção militar com Bolsonaro no poder", Jair bateu o pé que só sairia da cadeira de presidente morto, preso ou reeleito, ignorando que, nas eleições, a derrota é uma possibilidade. Curiosamente, a que se confirmou. E de forma irrefutável: pela primeira vez no país, um presidente não conseguiu se reeleger.

Mas o menino Jair também não sabe admitir derrotas. Fazendo birra para não passar a faixa a Lula, fugiu para os EUA —tudo indica que numa viagem de avião, não de entorpecentes. Pergunto-me se em algum momento no aeroporto ele olhou para o lado e imaginou o que teria acontecido caso a bomba que um dos seus seguidores tinha colocado ali perto dias antes tivesse explodido. De qualquer forma, não deve ter sentido remorso de ter um terrorista entre seus fãs, já que o próprio Jair parece ter tido planos igualmente explosivos na década de 1980.

Em um novo capítulo dessa saga de golpismo e sabotagem, a polícia encontrou na casa do ex-ministro da Justiça de Jair um plano para melar o resultado das eleições que tinham acabado de destituí-lo da Presidência. Os argumentos desse plano eram, como diz Flávio Dino, do mesmo continente mental terraplanista daqueles usados por Bolsonaro em uma reunião com embaixadores e baseiam-se na fábula repetida 23 vezes em 2021 de que o sistema de urnas eletrônicas não é confiável.

O fim dessa anedota é conhecido. Bolsonaristas amotinados em acampamentos fascistas destroem Brasília e dias depois o menino Jairzinho repete a surrada ladainha de questionar os processos eleitorais. Com medo das consequências, apaga o post e alega morfina.

Um cachorro pode até eventualmente comer o dever de casa do Joãozinho, mas essa casualidade é bastante improvável no caso de um golpista que alega uso abusivo de drogas para justificar seus golpismos. De mais a mais, o Brasil não é anedota, e Jair não é menino. É o capitão de um golpe que precisa urgentemente ser responsabilizado por seus atos. Sem anistia.

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