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Sem emergência

Pandemia continua, mas controlada graças à produção de vacinas em prazo inaudito

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Profissional de saúde aplica vacina contra Covid-19 - Danilo Verpa/Folhapress

Em 1º de maio, a Organização Mundial da Saúde ainda registrava 42.673 casos novos de Covid-19. A pandemia que assola o planeta desde dezembro de 2019 não acabou, decerto, mas se tornou administrável a ponto de a OMS declarar encerrada a emergência de saúde pública de alcance global.

Mais de três anos depois, a pior doença infecciosa surgida após a gripe de 1918 se encontra domada sob o jugo de vacinas desenvolvidas em prazo inaudito. Em que pese o lamentável avanço do negacionismo da ciência, a imunização encurralou o vírus Sars-CoV-2.

Quantas mortes teriam sido evitadas sem as campanhas antivacinação de populistas da cepa de Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump?

As cifras da Covid-19 são portentosas. A enfermidade alcançou 765.222.932 pessoas, de acordo com o registro da OMS de casos confirmados até 30 de abril, e ceifou 6.921.614 vidas. Aplicaram-se 13.344.670.055 vacinas, quase duas doses por habitante da Terra.

A contabilidade macabra pode embutir considerável subestimação. Óbitos não notificados e mortes sob outras condições agravadas por sistemas de saúde em colapso poderiam catapultar o total de vítimas para a casa dos 15 milhões.

O flagelo ensejou a rara circunstância em que expectativas de vida recuam em vez de progredir, algo que só costuma acontecer com guerras. Nos Estados Unidos, que possuem dados confiáveis, a população masculina perdeu dois anos de vida, em média.

No Brasil, até o último dia 26, o Ministério da Saúde contava 37.449.418 notificações e 701.494 óbitos. Ou seja, 10,1% do total mundial de mortes —vítimas demais para um país com menos de 3% da população global.

Esse foi o legado de uma gestão temerária da pandemia, que submeteu a saúde pública ao delírio ideológico de um presidente mendaz. O epidemiologista Pedro Hallal declarou na CPI que até 400 mil mortes poderiam ter sido evitadas com mais distanciamento social e vacinação precoce.

Além da fazer campanha aberta contra o isolamento, Bolsonaro jactou-se de nunca ter tomado vacina contra a Covid-19 —e agora é investigado sob suspeita de fraudar os bancos de dados oficiais antes de viajar aos Estados Unidos. O mau exemplo veio de cima, mas a sociedade brasileira reagiu e aderiu em massa à imunização.

Evitou-se, assim, dano ainda maior. Aqui e em outras partes, porém, observa-se aumento do descrédito na principal ferramenta da medicina para conter novas pandemias —que certamente virão, num planeta cada vez mais conectado e propenso a conhecer zoonoses favorecidas pela destruição de habitats e pela mudança do clima.

editoriais@grupofolha.com.br

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