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A ponta do iceberg

Espera para cirurgias expõe gargalos no SUS, que exigem ação em várias frentes

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Cirurgia de catarata em hospital público de Porto Velho (RO) - Breno Vilar/Sesau-RO

Já se contam mais de um milhão de cirurgias eletivas na fila do SUS. O número impressiona, mas deve ser visto com um grão de sal, dado que um dos problemas crônicos do sistema é a interação precária entre bancos de dados.

Com isso, a cifra talvez inclua casos de dupla contagem —por exemplo, de paciente inscrito na fila do município e do estado.

Observam-se problemas também nos registros de óbito e mudança de domicílio. Ademais, os números foram apurados no âmbito de um programa federal de distribuição de verbas. Assim, redes que aparecerem com grandes filas têm maior chance de receber mais somas, o que reduz incentivos à precisão.

Se cabe ceticismo em relação à acurácia da dimensão, não há dúvida em relação ao movimento. A demanda por operações programadas de fato costuma superar a oferta, tendência que se agravou com a pandemia de Covid-19. Por um longo período, as redes só realizaram cirurgias de urgência, o que aumentou as filas das eletivas.

É bem-vindo, portanto, o programa federal para reduzir esperas. O governo pretende diminuir as filas em 45% com repasse de R$ 600 milhões às redes estaduais. Aqui, novamente, reaparecem outros problemas crônicos do SUS.

Esforços concentrados, como mutirões, têm papel importante, mas as redes precisam funcionar sempre. Não é sensato permitir o acumulo de casos e concentrar o atendimento em programas emergenciais.

Longas esperas são torturantes para os pacientes e muitas vezes pioram prognósticos.

Além disso, várias cirurgias só podem ser feitas por profissionais especializados. As operações de catarata, por exemplo, que ocupam a primeira posição com 167,5 mil solicitações em espera, exigem um cirurgião oftalmologista —e, no Brasil, existem menos de 18 mil médicos com essa formação.

Apenas uma fração dos profissionais atua no SUS e, obviamente, é preciso dar conta não apenas das cataratas, mas de todas as patologias que afetam a visão.

Embora o número de médicos formados tenha crescido 84% entre 2012 e 2022, a pós-graduação não acompanhou essa tendência.

Isso é até certo ponto esperado, já que a especialização exige tempo. Mas, se não forem criados incentivos para que o país forme especialistas, poderemos experimentar apagões médicos em várias áreas.

editoriais@grupofolha.com.br

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