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O que a Folha pensa ataque à democracia

Dez anos depois

Falta líder que encarne junho de 2013, que catalisou a rivalidade política atual

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Protesto contra aumento de tarifa da passagem de ônibus no Largo da Batata, em São Paulo (SP) - Lalo de Almeida - 17.jun.13/Folhapress

Em junho de 2013, o Brasil assistia ao desgaste de um partido havia mais de década no poder, com lideranças condenadas por corrupção poucos meses antes. Exauria-se um forte ciclo de crescimento econômico, cujo prolongamento artificioso tornara-se a obsessão de um governo inábil.

O contexto internacional não era menos desafiador. Uma crise financeira global havia sido domada à custa de ciclópicas intervenções de tesouros e bancos centrais. Massificava-se a utilização das redes sociais, que haviam dado mostras de seu poder de mobilização na rodada de revoltas da Primavera Árabe.

A tarifa de transporte em metrópoles brasileiras —cuja alta costumeira do início do ano fora adiada por pressão da presidente Dilma Rousseff (PT)— serviu como estopim dos protestos iniciais de rua. Grupos juvenis inexpressivos bateram-se contra a tentativa de reajuste e de repente se viram inundados por uma torrente de apoiadores com variadas reivindicações.

A violência passou a acompanhar as passeatas, algo até então incomum na política da Nova República, sob a forma de depredações, confrontos e repressão abusiva das polícias. Prédios federais em Brasília foram fustigados por multidões como só ocorreria novamente em 8 de janeiro de 2023.

A coloração esquerdista da primeira fase da revolta deu lugar à de seus antípodas na etapa seguinte. As camisetas amarelas predominavam ao final, com uma mixórdia que incluía repúdio ao intervencionismo econômico, clamores anticorrupção e conservadorismo nos costumes. Grupelhos autoritários perderam o pudor de exibir seu ódio à democracia.

Essa direita renovada e popular, fenômeno também inédito no Brasil democrático, firmou-se no cenário político nacional. Propiciou as disputas presidenciais apertadíssimas de 2014 e 2022, o aval multitudinário ao impeachment em 2016 e a eleição de um demagogo autoritário, Jair Bolsonaro, em 2018.

Já a esquerda permaneceu na órbita do PT, que disputou o segundo turno nas três eleições presidenciais seguintes e venceu duas delas.

Nenhum dos dois lados da anteposição que se sustenta desde então no país logrou converter-se em maioria sólida seja na sociedade, seja na representação política.

Ficou evidente que vilipendiar a institucionalidade, mensagem implícita em alguns discursos desde as Jornadas de Junho, é atalho para o despotismo, não para a resolução dos graves problemas nacionais.

A melhor síntese de 2013 —um país em busca de justiça e amparo social, democracia, progresso material, liberdade econômica e compostura no exercício do poder— ainda não encontrou uma liderança que a personifique.

editoriais@grupofolha.com.br

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