Descrição de chapéu Junho, 13-23

Relembre 10 fatos que marcaram as Jornadas de Junho de 2013

Mês de protestos teve black blocs, violência policial, pressão contra Copa e invasão da Esplanada

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São Paulo

Com marcas deixadas até hoje na política brasileira, as Jornadas de Junho de 2013 foram iniciadas a partir de manifestações contrárias ao aumento das tarifas de transporte público, mas que se transformaram em uma revolta generalizada —contra a corrupção, os gastos com a Copa do Mundo de 2014 e a falta de serviços públicos, dentre outros temas.

Os primeiros atos que evidenciaram a insatisfação tiveram início ainda no ano anterior, com os progressivos aumentos dos preços das passagens em capitais do Brasil como Natal, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Eles ganharam volume e mobilizaram a classe política em junho de 2013 —sendo alavancados após casos de violência policial contra manifestantes.

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Manifestantes na avenida Brigadeiro Luís Antonio, em SP, durante protesto contra a alta da tarifa de transporte - Fabio Braga - 17.jun.2013/Folhapress

Os protestos abriram espaço para outros movimentos do cenário político nacional, como a Operação Lava Jato, a queda da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016, a polarização acentuada e a eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018.

Relembre dez dos principais fatos que marcaram as jornadas de Junho de 2013:

Aumento das tarifas e 'Revolta do Busão' - ago.12 a mai.13

Estudantes de redes municipais e estaduais protestam com faixas e cartazes contra o aumento da passagem de ônibus para R$ 3,05, no Rio de Janeiro
Estudantes de redes municipais e estaduais protestam com faixas e cartazes contra reajuste da passagem de ônibus para R$ 3,05, no Rio de Janeiro - Adriano Ishibashi - 21.nov.12/Frame/Folhapress

Em 2012, a primeira capital com protestos marcantes depois do aumento das tarifas de ônibus foi Natal. O movimento "Revolta do Busão" articulou manifestações após a alta de R$ 2,20 para R$ 2,40, e houve a revogação do reajuste pelos vereadores.

O Rio de Janeiro tentou em 2012 elevar a passagem de R$ 2,75 para R$ 3, levando à criação do "Fórum de Lutas contra o Aumento das Passagens". Sob pressão, o então prefeito Eduardo Paes (hoje no PSD) adiou o aumento.

Outras capitais registraram movimentos contrários ao reajuste das tarifas, como Porto Alegre, com atos após um aumento de R$ 2,85 para R$ 3,05, e Goiânia, com a criação da "Frente Contra o Aumento", que marcou protestos contra a alta de R$ 2,70 para R$ 3.

20 centavos, Passe Livre e black blocs - 6.jun.13

Manifestantes ligados pelo Movimento Passe Livre, ligado a estudantes, ao PSOL e ao PSTU, queimam catracas de papelão na avenida 23 de Maio, em São Paulo
Manifestantes ligados pelo Movimento Passe Livre, ligado a estudantes, ao PSOL e ao PSTU, queimam catracas de papelão na avenida 23 de Maio, em São Paulo - Nelson Antoine - 6.jun.13 /Fotoarena/Folhapress

Inspirados em Porto Alegre, o Movimento Passe Livre, criado em 2005, convoca manifestações contra o aumento da tarifa do transporte público paulistano de R$ 3 para R$ 3,20.

O grupo reuniu inicialmente cerca de 2.000 manifestantes na região central. Uma das marcas foi a presença no meio dos protestos de black blocs, manifestantes com máscaras, roupas escuras e adeptos de táticas de vandalismo.

Na noite de 11 de junho, durante um dos atos em SP, um PM é agredido com socos, chutes e pedras na região da Sé. A imagem do policial com rosto ensanguentado repercute na tropa, e o então governador Geraldo Alckmin fala em ser mais duro contra o que chamou de "vândalos" e "baderneiros".

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Policial militar com rosto sangrando após ser atingido por socos, chutes e pedras durante manifestação contra a alta da tarifa, na região da praça da Sé, centro de SP - Drago - 11.jun.2013/SelvaSP

Violência policial - 13.jun.13

Policial militar agride mulher que estava em bar na avenida Paulista em dia de manifestação contra aumento da tarifa - Eduardo Anizelli - 13.jun.2013/Folhapress

A PM de SP reage com violência no protesto de 13 de junho, deixando dezenas de manifestantes e jornalistas feridos (sete repórteres da Folha estavam entre os agredidos) e ampliando, nos dias seguintes, a repercussão das Jornadas de Junho.

Os atos em todo o Brasil receberam respostas truculentas das polícias nos estados. No Rio, a PM usou spray de pimenta e bombas de efeito moral para dispersar um ato com milhares de pessoas.

Manifestantes mascarados montam barricadas com fogo durante protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, na avenida Paulista, em São Paulo
Manifestantes mascarados montam barricadas com fogo durante protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, na avenida Paulista, em São Paulo - Marlene Bergamo - 11.jun.13/Folhapress

Não vai ter Copa? - 15.jun.13

Manifestantes protestam perto do estádio Mané Garrincha, em Brasília, na esteira da onda de manifestações das jornadas de Junho de 2013
Manifestantes protestam perto do estádio Mané Garrincha, em Brasília, na esteira da onda de manifestações das jornadas de Junho de 2013 - André Borges - 15.jun.13/Folhapress

No dia da abertura da Copa das Confederações, no estádio Mané Garrincha, em Brasília, houve um ato contrário aos gastos públicos para a realização da Copa do Mundo de 2014. Algumas frases como "Copa do Mundo eu abro mão, quero dinheiro para saúde e educação" floram entoadas pelos manifestantes, recebidos com truculência pela polícia.

Os PMs utilizaram balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo, e receberam pedradas dos presentes no protesto. Oito agentes de segurança e dois manifestantes ficaram feridos.

No teto do Congresso - 17.jun.13

Manifestantes sobem o teto do Congresso Nacional nas manifestações de junho de 2013
Manifestantes sobem o teto do Congresso Nacional nas manifestações de junho de 2013 - Pedro Ladeira - 17.jun.13/Folhapress

Os protestos foram perdendo o caráter inicial, de contrariedade ao aumento das taxas do transporte público, e ganhando novos contornos, com pedidos de melhoria nos serviços públicos, além de maiores investimentos em saúde e educação, o combate à corrupção e a desistência de sediar a Copa do Mundo.

Em Brasília, um protesto levou a uma invasão da Esplanada dos Ministérios e a ocupação do teto do Congresso Nacional. No Rio, houve confronto entre a polícia e os manifestantes em frente à Assembleia Legislativa.

Em São Paulo, um ato se dirigiu ao Palácio dos Bandeirantes, na capital paulista, em uma tentativa frustrada de ocupação. No dia seguinte, outro grupo tentou invadir a prefeitura.

Guardas usam cassetetes contra grupo de manifestantes que tentava invadir a sede da Prefeitura de São Paulo - Fabio Braga - 18.jun.2013/Folhapress

Revogação dos aumentos - 19.jun.13

Manifestantes comemoram a redução da tarifa de ônibus durante manifestação, na Avenida Paulista, em São Paulo
Manifestantes comemoram a redução da tarifa de ônibus durante manifestação, na Avenida Paulista, em São Paulo - Marcelo Justo - 19.jun.13/Folhapress

Após a sequência de manifestações tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, ambos os governos anunciaram, no mesmo dia, a revogação do aumento das tarifas de transporte público.

Em São Paulo, o então governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o então prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT), anunciaram a volta das passagens a R$ 3. No Rio, o aumento no valor das tarifas também foi suspenso, voltando ao valor de R$ 2,75.

As iniciativas, porém, não foram suficientes para diminuir ou esvaziar os atos, agora com outras pautas, mais difusas. Foram convocadas novas manifestações para os dias seguintes.

 Manifestantes e Tropa de Choque entram em confronto na Avenida Paulista, na terceira manifestação após a prefeitura ter aumentado de R$3,00 para R$3,20 a tarifa dos ônibus municipais
Manifestantes e Tropa de Choque entram em confronto na Avenida Paulista, na terceira manifestação após a prefeitura ter aumentado de R$3,00 para R$3,20 a tarifa dos ônibus municipais - Juca Varella - 11.jun.13/Folhapress

O gigante acordou - 20.jun.13

Manifestantes em Recife durante ato das Jornadas de Junho erguem cartazes com diversas reivindicações - Yasuyoshi Chiba - 20.jun.2013/France Presse/AFP

O ápice das Jornadas de Junho foi atingido no dia 20, quando mais de 1,2 milhão de pessoas se juntaram em mais de cem cidades brasileiras. A maioria das passeatas foi pacífica, mas houve confrontos com a polícia em várias cidades, como no Rio e em Brasília, onde os manifestantes atacaram o Palácio do Itamaraty.

Em São Paulo, o público de cerca de 100 mil pessoas ocupou a avenida Paulista e, em Ribeirão Preto, um estudante morreu atropelado.

Pronunciamento de Dilma - 21.jun.13

A então presidente Dilma Rousseff (PT) faz pronunciamento em resposta aos protestos e manifestações ocorridos no país em junho de 2013
A então presidente Dilma Rousseff (PT) faz pronunciamento em resposta aos protestos e manifestações ocorridos no país em junho de 2013 - Reprodução - 21.jun.13/Presidência da República

Após uma sequência de conversas com ministros e o cancelamento de uma viagem para o Japão, Dilma fez um pronunciamento de cerca de dez minutos, buscando tranquilizar os manifestantes.

Na transmissão, a petista prometeu conversar com prefeitos e governadores para a criação de um plano de mobilidade urbana e um pacto para melhoria dos serviços públicos, além de destinar 100% do dinheiro dos royalties de petróleo para a educação, ampliar o atendimento do SUS e se encontrar com os líderes dos atos.

Ela também disse ser favorável às reivindicações e protestos, mas criticou o vandalismo.

Pactos nacionais e propostas - 24.jun.13

A então presidente Dilma Rousseff (PT)em reunião com os governadores e prefeitos para tratar sobre as manifestações que tomavam o país, e sugerindo um plebiscito para a reforma política, pedida nos atos de junho de 2013
A então presidente Dilma Rousseff (PT)em reunião com os governadores e prefeitos para tratar sobre as manifestações que tomavam o país, e sugerindo um plebiscito para a reforma política, pedida nos atos de junho de 2013 - Pedro Ladeira - 24.jun.13/Folhapress

Dilma se reuniu com os governadores e prefeitos das capitais para apresentar propostas requeridas pelos manifestantes, nos três níveis da federação. A petista apresentou cinco pactos e uma proposta de Constituinte que promovesse exclusivamente uma reforma política.

Nos pactos, foram abordadas a manutenção da responsabilidade fiscal como forma de controle da inflação, além de investimentos em saúde e contratação de médicos estrangeiros, aumento dos gastos em transporte público e valorização da educação.

Em relação à reforma política, a presidente deixou de lado a reforma constitucional e adotou a ideia de plebiscito no dia seguinte à apresentação dos planos. Em 26 de junho, também como resposta aos protestos, o Senado aprovou um projeto legislativo que tornava a corrupção, seja passiva ou ativa, um crime hediondo.

A Câmara dos Deputados, porém, recusou a realização da consulta plebiscitária, criando um grupo de trabalho para debater o tema.

Brasil campeão, movimentos com menos fôlego - 30.jun.13

Manifestante carrega cartaz contra Fifa durante protesto próximo ao estádio do Maracanã, no dia do jogo final da Copa das Confederações, no Rio - Eduardo Knapp - 30.jun.2013/Folhapress

A seleção brasileira venceu a Espanha por 3 a 0 e tornou-se tetracampeã da Copa das Confederações, no Maracanã. Do lado de fora do estádio, houve tumulto de um ato que se iniciou na Tijuca, na zona norte do Rio.

Os protestos perderam força —apenas 9.000 saíram às ruas em ao menos 18 cidades.

A movimentação política, porém, continuou, com o "Dia nacional de Lutas", organizado por centrais sindicais. Manifestações aconteceram em São Paulo e no Rio.

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