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O que a Folha pensa mudança climática

Mais um El Niño

Fenômeno desarranja o clima e eleva riscos de incêndio, o que exige prevenção

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Floresta em chamas na região do Rio Manicoré, no Amazonas - Christian Braga/Greenpeace

O planeta se prepara para um novo El Niño, fenômeno que ocorre quando águas superficiais mais quentes no oceano Pacífico perturbam o clima do mundo. No Brasil, a diminuição de chuvas no Norte e no Nordeste acende um aviso de alerta, em especial para a Amazônia, a exigir empenho redobrado do governo federal em prevenção.

O evento natural se repete a intervalos irregulares, e alguns estudos indicam que o aquecimento global pode torná-lo mais frequente e intenso. Fato é que, quando se impõe, como a partir de agora, a temperatura média da atmosfera sobe.

A volta do El Niño alarma porque, mesmo não aparecendo nos últimos seis anos, o período gerou seis dos nove anos mais quentes das medições iniciadas em 1880 —todos eles ocorridos após 2014. Em 2017 e 2018 prevaleceu a condição La Niña, que resfria o globo, mas não a ponto de contrarrestar a tendência de longo prazo.

Antes até de confirmado seu advento, a Terra já se achava sob fogo. No Canadá, literalmente, com incêndios florestais que sufocaram Nova York com fumaça e engoliram vegetação de área equivalente à do Rio Grande do Norte.

Em outros oceanos também se verificam anomalias, a indicar que mudanças climáticas mais ameaçadoras podem estar em curso. O Atlântico Norte mostra-se 1ºC mais quente que na média de 1981 a 2011. O gelo marinho em torno da Antártida recuou para níveis recordes.

A comunidade internacional não consegue consenso para atualizar metas do Acordo de Paris (2015). A próxima cúpula (COP28) se realiza em cinco meses em Dubai, no epicentro petrolífero das emissões de carbono; nem mesmo uma agenda da futura reunião se consegue fechar no encontro preparatório ora em curso em Bonn (Alemanha).

A queima de carvão, petróleo e gás natural precisaria recuar 6% ao ano para se observar o limite de 1,5ºC fixado em Paris, mas não há sinal disso. O Brasil pode dar contribuição relevante reduzindo o desmatamento, origem da maior parte de sua poluição climática.

A troca no governo federal decerto mudou as condições para tanto, após a desarticulação do sistema de prevenção e combate sob Jair Bolsonaro (PL). O Ibama foi reforçado, mas não é seguro que possa fazer frente à composição explosiva de estiagem por El Niño e setor agropecuário inflamado.

Em 1998, um ano de El Niño, só no estado de Roraima queimaram 11 mil km² de vegetação —área igual ao que se derrubou na Amazônia Legal em 2021-22. Evitar um desastre desse porte será um desafio para a ministra Marina Silva.

editoriais@grupofolha.com.br

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