Após quatro anos de ameaça a povos indígenas sob Jair Bolsonaro (PL), os números mostram que a atividade de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami quase triplicou em 2022 na comparação com 2020, quando começou o monitoramento feito pela Polícia Federal.
Em 2020, a área de garimpo ocupava 14 km²; dois anos depois, chegou a 41,83 km², um salto de 199%.
Reverter a crise humanitária e fundiária que se instaurou nas terras indígenas yanomami não será fácil. Os principais desafios do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são reverter o crescimento da atividade extrativa ilegal e evitar que as tensões na região sejam acirradas.
A primeira tarefa, ao menos até o momento, tem sido levada a cabo. Desde o início deste 2023, o último alerta para novos garimpos das imagens de satélite foi registrado em 6 de maio —revelando um possível resultado da operação contra o garimpo ilegal iniciada em fevereiro deste ano.
Em janeiro, foi declarado estado de emergência em saúde pública no território, com explosão de casos de malária e desnutrição.
Em fevereiro, uma operação interinstitucional foi implementada aliando PF, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fundação dos Povos Indígenas (Funai), Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e militares.
Na última quinta (22), foi anunciado um decreto federal que prevê alargamento da atuação do Exército, antes focado em ações de inteligência e logística. A norma agora libera militares para o combate direto às ações de garimpeiros.
A medida, contudo, exige cautela. Deve-se evitar o agravamento da situação de insegurança no local. As polícias, em particular as federais, e a Força Nacional possuem melhor treinamento para combater organizações criminosas que comandam o garimpo ilegal.
Envolver diretamente o Exército, para além do necessário apoio logístico, pode ser arriscado.
Para enfrentar a gravidade da situação, é preciso considerar a forma como o garimpo se adaptou para escapar da fiscalização —ao focar no trabalho noturno e montar acampamentos dentro da mata.
Esse novo cenário requer inteligência estratégica e mais equipes das polícias e da Força Nacional atuando de modo contínuo, juntamente aos órgãos especializados. Ao Exército cabe permitir que esse trabalho ocorra, por meio de apoio logístico, não liderá-lo.
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