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Atrás do prejuízo

Juros disparam na Turquia e na Argentina após experimentalismo contra inflação

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Notas de lira turca - Dado Ruvic/Reuters

Diante das críticas desinformadas ao Banco Central e do risco de que proliferem no país teses exóticas a respeito da condução da política monetária, convém ter em mente as experiências fracassadas de governos que se afastaram do bom senso no controle da inflação.

Dois exemplos notáveis são a Argentina, bem conhecida dos brasileiros, e a Turquia, cujo autocrata Recep Tayyip Erdogan tomou para si o poder de determinar a taxa de juros, com resultados desastrosos.

A fragilidade histórica da Argentina deriva da combinação de ampla dolarização e escassez de divisas. Sem um regime fiscal e monetário crível, o país há décadas depende de financiamento externo.

O modelo se equilibra quando há aumento dos preços das exportações e sobras que podem ser direcionadas para a economia doméstica. Ao menor sinal de virada, porém, acentua-se a fuga de capitais e fica mais difícil sustentar o governo cronicamente deficitário.

Nos últimos anos, as políticas populistas de Alberto Fernández tornaram o quadro ainda pior. A incapacidade de realizar reformas internas foi completada com experimentalismo monetário.

Despesas públicas passaram a ser financiadas com emissão de moeda. A inflação disparou e já atinge mais de 100% ao ano, e os juros recentemente tiveram de subir a 97%.

A deterioração econômica da Turquia é um pouco mais recente. No poder há duas décadas e recém-reeleito, Erdogan de início respeitava a tradicional autonomia do banco central e mantinha uma política fiscal responsável.

Diante da deterioração das condições de crescimento econômico, contudo, passou a alimentar a tese de que os juros altos seriam os culpados. Fez mais: interveio nas decisões e demitiu dirigentes da autoridade monetária.

A lira turca, como resultado, perdeu valor rapidamente, e a inflação no país está na casa dos 40% anuais.
Erdogan ensaia agora algum retorno à ortodoxia e não se opôs a um brusco aumento dos juros na semana passada de 8,5% para 15%, ainda muito abaixo da inflação. Pode ser pouco e tarde.

Nos dois casos ficam evidentes as consequências das aventuras —instabilidade econômica, fuga de capitais e inflação.

No Brasil, felizmente, a institucionalização da gestão monetária se mostrou robusta, e a estabilidade da moeda resistiu a uma eleição polarizada e às incertezas da troca de governo.

editoriais@grupofolha.com.br

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