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Oscar Hipólito

A falta de engajamento dos estudantes no ensino superior

Para alunos, professores deveriam utilizar mais materiais ligados às futuras carreiras

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Oscar Hipólito

Professor titular da USP, é assessor educacional da Numbers Talk-Business Analytics e diretor acadêmico da Cintana Education (Brasil)

A falta de engajamento dos estudantes no ensino superior é um problema cada vez mais evidente e preocupante. Professores e gestores de instituições de ensino reconhecem que o desinteresse dos alunos em relação aos cursos tem crescido, afetando negativamente sua formação acadêmica e contribuindo para altas taxas de evasão e de insucesso profissional.


Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do MEC) revelam que 54% dos alunos que ingressaram em 2015 abandonaram seus cursos após cinco anos, 10% continuaram estudando e apenas 35% se formaram. Além disso, o último censo da educação superior constatou que mais de 2,3 milhões de alunos aptos a se matricular em 2021 abandonaram o ensino superior, resultando em um prejuízo financeiro de mais de R$ 23 bilhões.

Com o objetivo de identificar as causas desse descontentamento dos estudantes, que não se limita apenas ao Brasil, a editora americana John Wiley & Sons realizou recentemente uma pesquisa chamada "State of Student 2022", que envolveu 5.258 alunos e 2.452 professores na América do Norte. Nesse estudo, os autores buscaram compreender os fatores que mais impactam o interesse, a aprendizagem e, consequentemente, o sucesso dos estudantes.

A análise das respostas revelou que 55% dos alunos de graduação e 38% dos alunos de pós-graduação enfrentam dificuldades para manter o interesse em suas aulas. A mesma proporção de estudantes de graduação (55%) e 34% dos estudantes de pós-graduação afirmaram ter dificuldades em assimilar o conteúdo apresentado.

Segundo os alunos, os professores poderiam despertar um maior interesse se utilizassem materiais relacionados às suas futuras carreiras profissionais. Um quarto dos entrevistados mencionou que seu engajamento seria significativamente melhorado por aulas que abordassem questões práticas do mundo real, especialmente aquelas baseadas na aprendizagem experiencial, isto é, aprender com as experiências.

Não resta dúvida de que a discussão e a resolução de problemas reais podem ajudar os alunos a se envolverem mais com o curso, contribuindo para o desenvolvimento de suas carreiras futuras e aumentando suas chances de sucesso no competitivo mercado de trabalho atual.

Estudantes da USP na volta às aulas em 2022 - Zanone Fraissat - 14.mar.22/Folhapress

De acordo com a pesquisa, os principais fatores que influenciam os alunos a escolher um curso são o interesse na área do conhecimento (57%), as oportunidades de carreira (46%) e a capacidade de causar um impacto positivo nessa área (41%). Esses achados estão alinhados a dados de uma outra pesquisa, realizada neste ano pelo Instituto Semesp (do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), que entrevistou 1.970 alunos.

Por outro lado, ao contrário dos apenas 46% de estudantes que afirmaram que suas instituições os preparam adequadamente para o mercado de trabalho, entre os professores são 64% os que acreditam que suas instituições estão fazendo um bom trabalho nesse aspecto. Essa disparidade foi discutida em texto publicado nesta seção em 5 de junho de 2022, com base em pesquisa realizada com empregadores que revelou a desconexão existente entre o ensino superior e o mundo do trabalho.

Com o intuito de reduzir a lacuna entre a universidade e o mercado, 81% dos estudantes afirmaram que seria importante que as instituições incorporassem em suas grades curriculares projetos liderados por empresas que simulem o trabalho real.

É fundamental que as instituições de ensino e especialmente os professores estejam cientes das áreas em que os alunos encontram dificuldades, a fim de auxiliá-los a superar essas preocupações que ameaçam seu futuro e consequentemente o desenvolvimento do país.

Grande parte desses problemas demanda soluções que precisam partir de políticas públicas —o que torna a situação ainda mais crítica. Preparar o sistema de ensino superior para essas questões é particularmente urgente, inclusive no estabelecimento de um currículo que mantenha a conectividade da universidade com o mundo do trabalho.

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