Os chefes de Estado do Mercosul reuniram-se na terça (4) em Puerto Iguazú com uma boa novidade, em meio ao agravamento da crise crônica de ineficiência do bloco.
A alvíssara foi a retomada do hábito civilizado de sentarem-se à mesa os quatro presidentes das nações fundadoras —Brasil, a anfitriã Argentina, Paraguai e Uruguai. Ponto para a diplomacia de normalização empreendida pelo governante brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após os estragos da passagem de Jair Bolsonaro (PL).
A ameaça de rompimento do Uruguai respondeu pela piora do drama que há décadas frustra a promessa de que a união aduaneira traria vantagens substanciais e crescentes aos sócios do bloco.
O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, recusou-se a assinar o comunicado final do encontro na cidade argentina situada na Tríplice Fronteira. Ele pleiteia licença para fechar um acordo bilateral com a China, o que Brasil e Argentina enxergam como infactível, dadas as regras da associação do Mercosul.
O problema é que as duas maiores economias do bloco não oferecem resposta convincente ao argumento uruguaio de que, passados mais de 30 anos de sua fundação, o Mercosul não selou nenhum acordo relevante com outros países ou associações nacionais do planeta.
A sempre postergada aliança com a União Europeia, para materializar-se, vai precisar de um longo e incerto processo de negociações e ratificações pelos governos de cada uma das dezenas de nações envolvidas. Não está no horizonte visível o final desse longo percurso.
A própria Argentina atravessa mais um de seus cataclismos de financiamento externo periódicos, com inflação fora de controle e riscos elevadíssimos de insolvência. O presidente Alberto Fernández, às vésperas de uma eleição nacional, empenha-se em aplicar remendos que pelo menos adiem o estouro dos diques. Pede socorro ao FMI e ao governo brasileiro.
O Mercosul perdeu-se quando tentou dar um salto maior que as suas pernas. Em vez de trabalhar para consolidar o livre comércio entre os parceiros e deixá-los liberados para fazer as suas alianças externas, pretendeu tornar-se uma união aduaneira, que funciona como uma só nação na hora de negociar acordos com terceiros.
O bloco não avança, como atesta a pasmaceira de suas alianças externas, nem deixa os seus membros avançarem individualmente.
Já a retórica e as bravatas politiqueiras dentro da associação não têm limites. Enquanto os modelos econômicos de Brasil e Argentina se apartam como o óleo da água, Lula repisa a ideia de uma moeda comum no âmbito do Mercosul.
É como discutir o sexo dos anjos com bárbaros às portas da cidade.
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